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“Do que vou sentir saudade? Sinceramente, de tudo”

14 de dezembro de 2020

Meu nome é Emilie Chen, tenho 18 anos. Entrei no Pioneiro no 7º ano, 5 anos atrás. Quando crescer, quero ser engenheira ou trabalhar no campo de pesquisa médica.

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Uma coisa que o Pio mudou em mim foi que a escola me deu vontade de ser melhor do que eu era antes. “Eu sou ruim nisso, tudo bem”, “não vale nem a pena tentar melhorar”, “para que treinar isso, eu não tenho jeito”, “melhor focar no que já sei”. Se eu não tivesse conhecido meus amigos do Pio, ainda pensaria assim. Mas a sensação de estar lado a lado dos colegas, rindo de erros que cometemos ao longo do caminho, sem nunca parar de encorajar uns aos outros e os momentos em que vibramos juntos por nossas vitórias, por menores que elas sejam, me ajudam a ir além do que eu era antes. Por mais difícil que seja a jornada, é difícil desistir quando se tem amigos assim.

Também fico feliz por ter conhecido os professores do Pio, que sempre me estimularam e reconheceram forças que eu nem sabia que tinha. As professoras Tatiana e Dalva de Matemática e a professora Selma de Inglês, por exemplo. As duas primeiras por acreditarem em mim nas Olimpíadas de Matemática, e a terceira por ficar comigo fora do horário de aula treinando para o Cambridge FCE.

Estar nesta escola abriu muito meus horizontes. Competir nas Olimpíadas de Matemática e Astronomia me fez perceber o quanto de gente incrível da minha idade tem por aí. Fazer uma prova bem mais difícil do que o normal junto com pessoas de um nível muito alto me dá um sentimento de medo competitivo: ok, está certo que eu estou aqui competindo com essas pessoas muito mais inteligentes e muito mais preparadas que eu, mas eu quero dar o meu melhor. Era isso que eu pensava nas provas. Imagino que a oportunidade de participar das Olimpíadas também ajude bastante nos vestibulares, pois neles eu sinto o mesmo.

Emilie (segunda da esquerda para a direita) foi medalhista de bronze na Olimpíada Brasileira de Astronomia e Astronáutica em 2019

“Por mais difícil que seja a jornada, é difícil desistir quando se tem amigos assim.”

Ainda no tema de expandir horizontes, o concurso KWN (Kids Witness News), da Panasonic, foi incrível. O tema que escolhemos foi acessibilidade para deficientes visuais e auditivos. Esse trabalho nos levou a conversar com autoridades no assunto e a conhecer escolas e institutos que trabalham com esse tema, como o Instituto SELI (Educação e Inclusão em LIBRAS) e a Fundação Dorina Nowill. Além de um tema muito semelhante ter caído como redação do ENEM naquele ano, foi bom para tirar uma alienação e um preconceito que nós não sabíamos que tínhamos quanto a essas pessoas.

Também nunca vou esquecer de quando eu e o aluno Lucas Soga fomos levados pelo professor Alexandre Dias ao Fórum Mundial da Água em Brasília. Nós éramos os mais novos do Fórum, só tinham adultos! Nós visitamos estandes de várias nações como China, Palestina, Israel e muitas outras. Vimos uma palestra sobre a educação de jovens e o uso consciente de água, e eu e o Soga ficamos até assustados do quão distante aqueles adultos estavam da realidade de nós adolescentes. É quase absurdo que questões tão importantes para o nosso futuro e a nossa educação sejam decididas exclusivamente por eles. Foi um pouco chocante ver as agendas egoístas que movem a disputa pelo acesso à água. Pelo menos o Fórum alternativo, que contava com representação de povos marginalizados nas questões de acesso à terra e recursos hídricos, estava lutando para mostrar essas injustiças. Ter a chance de estar no Fórum e ver pessoas tomarem decisões que movem o mundo foi incrível.

Muitas das minhas memórias mais queridas são do dia a dia. Almoçar com os amigos na cantina, conversando enquanto comíamos a comida maravilhosa feita pelas tias da cantina. Durante as aulas, olhar para os amigos e morrer de rir por dentro por causa de alguma piada interna. Ficar com um super medo de apresentar aquele seminário de Português ou fazer aquela prova de Física. Correr atrás para aprender todos aqueles nomes super complicados de Biologia. Ficar sem ar por causa de uma combinação de cansaço e gargalhadas quando nós jogávamos algum esporte. Conversar e trocar recomendações de livros com o pessoal da biblioteca. Senti falta disso durante a quarentena, vou sentir mais falta ainda quando nos formarmos e sairmos do Pioneiro.

O trabalho mais marcante para mim foi sem dúvida o Trabalho Coletivo (trabalho continuado, em grupo, proposto para os três anos de Ensino Médio). Ele foi extremamente desafiador, não só porque éramos obrigados a realizar algo muito difícil e fora da nossa zona de conforto, mas porque tínhamos que trabalhar em grupo para conseguir isso. Na realidade, até um tempo atrás, eu tinha muita raiva dele. Eu achava que o tempo e o esforço que nós dedicamos ao Coletivo, que não nos daria um retorno nos vestibulares, eram grandes demais. Eu me perguntava: por que eu preciso saber como diagramar uma revista? Por que eu preciso escrever um artigo acadêmico no Ensino Médio? Por que eu preciso me estressar tanto com os meus colegas de grupo sendo que eu nem pude escolher com quem trabalhar? A resposta estava na vida real.

Saber mexer em programas de edição, diagramação e escrita é surpreendentemente útil. Já me peguei pensando “nossa, que bom que eu aprendi a fazer isso no Coletivo” várias vezes. Foi enquanto lia artigos científicos para uma pesquisa do Coletivo que eu percebi “quero trabalhar com isso quando crescer”. Numa entrevista de trabalho, ficaram interessados no Coletivo e me fizeram diversas perguntas sobre a minha experiência em grupo. Tive a chance de mostrar o nosso Coletivo sobre memórias a uma psicóloga, ela ficou maravilhada com o que conseguimos produzir. No final das contas, o Coletivo nos deu habilidades muito necessárias para o futuro e, mesmo que nós alunos não reconheçamos isso, os adultos à nossa volta certamente valorizam essa experiência.

Do que vou sentir saudade? Sinceramente, de tudo. Do bom e do ruim. Dos amigos, dos professores e de todas as pessoas que tornam a escola o que ela é. Das experiências únicas que tive, dos momentos do dia a dia na escola. Hoje eu me vejo como uma pessoa confiante e preparada para o futuro, mesmo que o sucesso não seja imediato. Me preparando para deixar a escola, guardo o Pio no coração com carinho e gratidão.

Obrigada por tudo.

Emilie Chen

Emilie participou da oficina de grafitagem do Cafofo em 2019

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