Neste artigo, vamos explicar no que consiste a sala de aula invertida e como ela muda a dinâmica de aprendizado e o tempo da sala de aula
Por Naila Okita Shimizu
O modelo tradicional de aprendizado consiste em o professor transmitir o conteúdo da disciplina aos alunos durante o horário de aula e designar tarefas/exercícios para serem feitos em casa, a fim de reforçar as informações e mensurar o quanto eles aprenderam.
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Agora imagine se, ao invés de usar 30, 40 minutos do tempo de aula para expor um conteúdo enquanto os alunos apenas assistem, o professor pudesse dedicar a aula inteira para discussões em grupo, esclarecimento de dúvidas, elaboração de projetos e outras atividades que estimulem curiosidade, criatividade e habilidades argumentativas, por exemplo?
A sala de aula invertida tem esse propósito.
E como ela funciona?
Em 2000, o professor de mídia e jornalismo J. Wesley Baker, da Cedarville University em Ohio, Estados Unidos, estruturou o conceito e metas do que seria uma aula invertida*, apresentada em uma conferência de Educação na Flórida.
A aula ganha muito mais tempo para análise crítica e pensamento criativo sobre o conteúdo estudado.
Segundo Baker, enquanto antigas tecnologias eram passivas, analógicas e lineares, as novas tecnologias apresentam um mundo interativo, digital e não-linear. Dessa forma, é possível estruturar novas maneiras de trabalhar informação, discussão, compreensão e participação dos alunos.
Ele sugere uma etapa não presencial e uma etapa a ser desenvolvida em sala de aula. No caso, ele dá um exemplo de tempo não presencial on-line:
1) Palestra
Um componente-chave da sala de aula invertida é levar a apresentação de conteúdo para fora da sala, geralmente de modo digital. Pode ser um vídeo, uma leitura, até mesmo um jogo.
2) Discussão encadeada
Em ferramentas online, é possível discutir os conteúdos de forma estendida. Com o tempo fixo das aulas, quase sempre uma discussão é encerrada por conta do horário mas, em uma plataforma virtual, os alunos podem escrever com calma, ler tudo o que os colegas refletiram sobre o assunto, e têm a possibilidade de debater de forma interativa sem interrupções.
3) Quiz e testes
Se uma das ferramentas escolhidas for aplicação de testes, o objetivo não é atribuir notas, mas sim levar a uma autoavaliação e orientar o aluno sobre o nível de compreensão que ele teve do conteúdo. Consequentemente, ele saberá quais os pontos que precisará retomar.
Essa metodologia, ao mesmo tempo em que oferece ao aluno mais controle sobre seu tempo de estudo, faz com que ele tenha maior senso de responsabilidade sobre seu aprendizado
Já em sala de aula, os procedimentos seriam mais ou menos assim:
1) Esclarecer
Iniciar o período esclarecendo dúvidas sobre o conteúdo previamente estudado.
2) Expandir
Pedir que os alunos contribuam falando de experiências reais que tiveram, ou sobre qualquer material extra com que tiveram contato. Isso faz com que eles se sintam parte da construção do conhecimento individual e coletivo.
3) Aplicação e prática
Esse é um dos estágios de maior benefício do método da sala de aula invertida, de acordo com Baker. É o momento de pensar em como utilizar o conhecimento adquirido, conferir significado a ele e elaborar projetos ou atividades práticas sobre o tema. A aula ganha muito mais tempo para análise crítica e pensamento criativo sobre o conteúdo estudado.
Responsabilidade, protagonismo e tempo
Essa metodologia, ao mesmo tempo em que oferece ao aluno mais controle sobre seu tempo de estudo, faz com que ele tenha maior senso de responsabilidade sobre seu aprendizado. Ela proporciona mais autonomia por permitir que cada estudante avance no conteúdo ao seu tempo, pausando e voltando os vídeos caso não tenha entendido alguma parte e fazendo pesquisas paralelas de acordo com suas necessidades e interesses, por exemplo. Na escola, otimiza o tempo da turma uma vez que as energias estarão focadas em atendimentos personalizados ou em pequenos grupos e em desdobramentos do conteúdo, indo além do material expositivo.
Além disso, a sala de aula invertida valoriza o papel do professor, que atua como orientador dos percursos de pesquisa, além de ser um mediador entre estudantes e conhecimentos. É ele quem vai criar um espaço onde tudo o que foi estudado se torne relevante e faça sentido para todos. O professor faz a curadoria do material a ser lido/visto/estudado em casa. Se necessário, produz material próprio.
Em entrevista para o Canal Futura, Andrea Ramal, doutora em educação pela PUC-Rio e consultora de metodologias ativas, explicou que a sala de aula invertida muda a relação com o tempo. “O tempo da aula fica mais rico porque é utilizado para tirar dúvidas, fazer um estudo de caso, uma simulação”, explica Ramal. “O papel do aluno fica mais ativo porque ele não passa a maior parte do tempo ouvindo o professor, e sim interagindo, fazendo coisas, assumindo papel protagonista na aula.”**
No Centro Educacional Pioneiro, aplicamos a sala de aula invertida em conjunto com outras metodologias ativas, como a Aprendizagem Baseada em Projetos, por exemplo. A escolha da melhor metodologia (ou das partes de cada uma delas) é pensada e discutida entre coordenação e professores, e varia entre turmas, momentos do aprendizado, interesse coletivo etc e vai ao encontro de necessidades dos alunos e de benefícios que oferecem a eles.
O método já era implantado nas aulas presenciais, e foi adaptado para o formato remoto durante a quarentena. Veja alguns exemplos de como o método é aplicado no Pioneiro.
Sala de aula invertida: Astronomia no 1º ano
Sala de aula invertida: Música nos 6ºs e 7ºs anos
Sala de aula invertida: Sociologia no 3º ano do Ensino Médio
Sala de aula invertida: Língua Portuguesa e Redação
* http://www.classroomflip.com/files/classroom_flip_baker_2000.pdf
** Conheça a sala de aula invertida | Conexão