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Sala de aula invertida: Sociologia no 3º ano do Ensino Médio

11 de julho de 2020

Professor Braian Sanches Matilde

Há tempos venho pensando em superar a velha forma tradicional de lecionar com aula expositiva. Não é fácil, mas é necessário. Nossos estudantes aprendem melhor quando se amplia o leque de atividades. Isso ficou bem visível na quarentena, com as aulas virtuais. As turmas (me refiro ao Ensino Médio, para quem leciono) estão sentindo o impacto da quarentena e acabam tendo uma participação mais discreta. Eles ficam quietos, mudos, com vídeo desligado. Está mais difícil fazê-los participar das aulas, e o método expositivo tende a agravar esse quadro. Foi aí que eu decidi testar outra forma: com música.

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No curso de Sociologia, no 3º ano do Ensino Médio, estávamos iniciando o estudo sobre trabalho e trabalhadores na sociedade brasileira. Antes de iniciar o estudo formal, elaborei uma atividade via Moodle. Deixei duas músicas com suas respectivas letras para os alunos ouvirem e analisarem. As músicas são Trabalhador, do Seu Jorge,  e Construção, do Chico Buarque. A proposta é que os alunos tivessem um contato prévio com o tema, de modo a desenvolverem um senso crítico independente da aula. O pessoal do Ensino Médio, em especial o 3º ano, já possui uma bagagem cultural. Vale a pena explorar seu repertório e conhecimentos antes de sairmos tacando conteúdo novo em cima deles. Para fazer isso, utilizei dessas músicas e de um questionário para guiar a reflexão: 

1) O que essas músicas têm em comum? Qual o tema desenvolvidos nelas?
2) Em relação à música Trabalhador (Seu Jorge), qual o recado dela? Escreva uma síntese sobre as ideias e perspectivas presentes nessa música.
3) Em relação à música Construção (Chico Buarque), repare que ela tem muitas nuances, momentos, e joga com diversas perspectivas. Escreva sua compreensão sobre as nuances e jogos de conceitos dessa música.
4) Utilize esse espaço para escrever suas dúvidas. Fique à vontade para questionar, perguntar, expressar suas dúvidas, e fazer as observações que quiser


O questionário era apenas um guia para auxiliar a turma a se expressar. Eu nem sequer comentei previamente sobre o que se tratava, deixei como “tema surpresa” justamente para sentir o que a turma diria a respeito. E disseram muito! Analisaram com afinco as músicas, escreveram suas respostas com propriedade e demonstraram muito de suas capacidades cognitivas. Me deparei com pontos de vista autorais, diversos e profundos. Quando chegou o momento da aula ao vivo, eles tinham muito o que dizer. Alguns abriram a câmera (algo raro nas turmas do Médio). Apresentaram uns aos outros suas interpretações e se auxiliaram mutuamente a desvendar os pontos mais difíceis das letras. E não só da letra, mas também da própria estrutura sonora e como ela faz parte do “recado” presente na música. Em especial, com a música de Chico Buarque, que eles gostaram mais. 

Desse modo, sem iniciar o tema de modo expositivo (seja com fala, seja com ppt), deixei os alunos se manifestarem a respeito do assunto. Eles construíram o repertório a ser estudado. Nas aulas seguintes, aí sim apresentei algo a eles. Como eles já estavam sensibilizados, puderam aproveitar melhor as aulas seguintes, que foram um pouco mais expositivas. Eles já tinham se apropriado do tema e se sentiram mais dispostos a participar da aula, questionando e se posicionando a respeito do que estava sendo apresentado a eles. 

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