Saulo Camarotti, fundador da produtora de jogos independente Behold Studios, explica um pouco do trabalho de quem faz games
Jogar videogame é um dos passatempos preferidos de muitos jovens. Não à toa, segundo pesquisa da SuperData (braço da Nielsen Company especializado em dados de games), a indústria de jogos digitais e mídias interativas mundial faturou mais de US$ 120 bilhões em 2019. Em época de pandemia, quando não se pode nem sair de casa para encontrar amigos e passear, os jogos são uma opção ainda mais atrativa para eles.
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O mercado de games no Brasil está em crescimento. Mais de 73% dos brasileiros dizem ter costume de jogar jogos eletrônicos independentemente da plataforma, de acordo com levantamento da Pesquisa Game Brasil 2020 de fevereiro deste ano, o que representa um aumento de 7,1 pontos percentuais em relação a 2019.
É comum os gamers mais assíduos desejarem “viver de jogos”, ou seja, trabalhar na indústria de games. Mas quem pensa que desenvolver jogos significa sentar e jogar o dia inteiro, está muito enganado!
A produção e desenvolvimento de um jogo, seja para celular, PC, console etc., envolve profissionais de diversas áreas e muitas horas de trabalho e constante formação. O professor Alan Carlos, dos cursos de Ciência da Computação e Análise e Desenvolvimento de Sistemas, da Universidade de Fortaleza, falou para o site da Universidade que “o desenvolvedor de software vai usar todas as suas habilidades e terá de aprimorar algumas a mais. Falamos de conhecer do game design, desenvolvimento da história, tratamento de imagem, som, conhecer as linguagens e frameworks para cada plataforma”.
Para entender um pouco mais da formação necessária para ser um desenvolvedor de games e conhecer o dia a dia de quem está no ramo, conversamos com Saulo Camarotti, 34 anos, fundador e CEO da Behold Studios, uma empresa brasileira de games que está há 11 anos no mercado. A Behold tem mais de 70 prêmios e nomeações internacionais e alguns dos mais importantes jogos independentes produzidos no Brasil, como Knights of Pen & Paper I e II, Chroma Squad e Out of Space. Confira a conversa na íntegra!
Pioneiro – Você sempre quis ser desenvolvedor de jogos?
Saulo Camarotti – Desde os 7 anos de idade eu era apaixonado por computadores. Aprendi a programar em HTML, depois aos 11 aprendi a programar Basic e Visual Basic. E isso foi abrindo portas para que eu pudesse criar jogos. Também adorava desenhar e imaginar como seriam os jogos que eu criaria. Quando fui para a Universidade, aos 18 anos, já entrei em um curso que me possibilitasse entrar nessa carreira.
Qual a sua formação acadêmica?
SC – Ciência da Computação, depois pós graduação em Jogos Digitais.
Trabalhou em outras áreas antes de ir para games?
SC – Já trabalhei com desenvolvimento de sites e design de identidade visual, mas games sempre foi meu objetivo.
Existe algum curso específico para quem quer trabalhar com games? Que graduação é recomendada?
SC – Sim! Mas aí vai depender da área que se quer trabalhar com games. Graduação superior é importantíssima!
Existem os cursos de Computação e Sistemas para os que querem ser programadores; cursos de Arte e Design para aqueles que querem ser artistas, ilustradores e designers de games; cursos de Música para quem quer trabalhar com música para games; cursos de Gestão de Projeto e Administração para quem quer gerir um estúdio de games. Inclusive, hoje é possível trabalhar como advogado especializado em games e propriedade intelectual. Dentre outras possibilidades. Para quem quiser se formar em Game Design também é possível nos cursos de Game Design e Jogos Digitais.
Que tipos de jogos gosta de jogar?
SC – Eu amo jogar os jogos independentes, porque eles nos dão uma visão diferente do que é possível criar no mercado. Journey, Papers Please, Factorio, Celeste, Stardew Valley, e tantos outros.
Que tipos de jogos gosta de criar?
SC – Eu amo criar jogos independentes também. Aqueles que desafiam as normas e criam novos tipos de jogar. Mas, principalmente, jogos dos gêneros RPGs (role playing game) e Managers.
Pode contar um pouco do seu trabalho no dia a dia? Para termos uma ideia de como é o cotidiano de um desenvolvedor de games.
SC – Nosso trabalho é sempre em equipe. Cada um tem a sua função: artistas, programadores, designers, músicos, gestores etc. No dia a dia, temos uma reunião logo cedo para entendermos o que cada um vai fazer. Depois, cada um segue o seu caminho.
Às vezes, temos reuniões para discutirmos aspectos do jogo, para definir algum aspecto da história ou das mecânicas do jogo. Mas no geral: os artistas estão desenhando e modelando em 3D os cenários e os personagens. Os designers e roteiristas estão escrevendo diálogos ou desenhando as telas do jogo. Os programadores estão programando o jogo e trabalhando com a Engine (motor) de jogo. E os produtores estão garantindo que toda a equipe está trabalhando na tarefa certa e estão no prazo.
O que mais gosta no seu trabalho?
SC – Eu amo o fato de ser multidisciplinar. Eu amo arte: 3D, animações, sempre desenhei na vida; também música, sempre toquei instrumentos musicais; adoro computadores e linguagens de programação. Poder juntar tudo isso em um só trabalho é muito prazeroso. Todo dia é dia de criar, inventar e jogar nossos próprios jogos.
O que menos gosta?
SC – O que menos gosto é que tudo demora muito tempo. Fazer um jogo grande e profissional demora uns 2 anos. E é necessária muita maturidade para suportar o mesmo projeto e o mesmo jogo durante dois anos da nossa vida. Mesmo que a gente mude e nossos gostos mudem nesse meio do caminho, é importante ir até o fim, lançar o jogo, e só começar outro depois. É muito difícil mudar no meio do projeto, porque se mudar muito o jogo toda hora você não termina nunca.
Qual o jogo da Behold que mais curtiu desenvolver? Por quê?
SC – Adorei fazer o Chroma Squad, porque foi um jogo onde expressamos quem fomos na infância e o tanto que éramos apaixonados por Power Rangers e os Super Sentai japoneses. Foi um jogo muito divertido de fazer, com muito entusiasmo e coração.
Na época em que fundou a Behold, a área de games ainda era muito árida no Brasil. O que fez você arriscar nesse mercado?
SC – No Brasil realmente era árido, mas fazer jogos sempre foi um trabalho focado no mundo. As ferramentas todas estão disponíveis na internet, as lojas, a distribuição, os parceiros. Então na época não vi por que não poderia fazer isso tudo online. Tive que estudar muito por conta própria, tinha pouca gente por aqui para trocarmos ideias, mas fomos aos poucos criando esse ambiente favorável. Hoje o Brasil já é outro, com quase 500 empresas de games produzindo para o mundo todo. Infelizmente, o governo brasileiro é um dos que menos incentiva o setor, quando comparado aos outros tantos países que entendem cultura como um aspecto positivo de geração de valor e capital de um país. E claro, nunca entrei no mercado de games porque era um bom investimento financeiro, pelo contrário, entrei porque queria trabalhar com algo que significasse muito para mim.