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Adaptação: o papel da Tutoria na transição para o Fundamental 2

4 de setembro de 2020

Mudanças podem gerar ansiedade e dúvidas, e a vida escolar é feita de relações e vivências novas a cada dia. O Centro Educacional Pioneiro tem um programa de Tutoria, a partir do Ensino Fundamental II, para auxiliar os alunos em suas dificuldades e anseios, e fortalecê-los durante a jornada que trilham até o final do Ensino Médio. É um espaço de escuta ativa para que os estudantes sintam-se à vontade de conversar. São dois professores que estão à frente da Tutoria: Mário Fioranelli Neto, também coordenador de Humanidades; e Renato Luginick Ranieri, professor de História.

Tutoria: espaço da escuta ativa e da convivência ética

No caso dos alunos que vão do 5º para o 6º ano, eles irão trilhar uma experiência com mais professores, matérias, livros e toda uma rotina bastante diferente para organizar. Além, é claro, de todas as descobertas sociais e pessoais próprias da idade. Com a pandemia do novo coronavírus, a quarentena e as aulas remotas de 2020, é imprescindível que olhemos para esses jovens com um cuidado e um carinho ainda maiores, e a Tutoria tem um papel muito importante no acolhimento desses alunos.

O coordenador Mário Fioranelli falou sobre essa fase de transição de segmentos e como a Tutoria pode auxiliar os estudantes em um momento tão especial e em um contexto tão adverso como o que estamos passando.

Mário Fioranelli Neto

Geralmente, quando saem do Fundamental I e ingressam no Fundamental II, quais mudanças mais afetam os alunos? O que pode causar mais estranhamento para eles?
Apesar de entendermos que o projeto de aprendizagem do Pioneiro é único, no sentido de iniciar na Educação Infantil e finalizar no Ensino Médio, ele é composto de ciclos e, quando um/a aluno/a vai do 5º para o 6º ano, lida com dois sentimentos: de conquista, por ter concluído uma etapa; e de incerteza, porque aquilo que vem é novo e nunca foi vivenciado. Assim, o maior estranhamento está no/a próprio/a aluno/a que precisa se ambientar com o novo e ter a confiança de que ele/a dá conta. Aqui vale ressaltar que a Tutoria, juntamente com os/as professores/as, tem um papel intencional e fundamental de acolhimento e fortalecimento, tanto das turmas quanto individualmente.

Pensando nas dinâmicas escolares, existem mudanças e desafios emblemáticos: o recreio com alunos/as mais velhos/as, adaptação aos diversos estilos e propostas de aprendizagem, dinâmicas de avaliação, mediação de conflitos entre eles/as, estabelecer vínculos com um número maior de professores/as, as mudanças constantes de aula e, com isso, a organização pessoal e espacial.

“Estar preparado não é ter respostas para todas as situações, mas estar capacitado para refletir e lidar com os desafios que surgirem.”

Da mesma forma que no acolhimento, Tutoria e professores/as têm um cuidado bastante intencional e planejado com as turmas que iniciam os 6ºs anos, procurando tornar a experiência algo estimulante e não assustador, ao mesmo tempo que vamos desenvolvendo junto com eles/as as novas habilidades que fazem parte de seus processos de crescimento e amadurecimento, ajudando-os/as na mediação das questões. O que significa que, na parte das dinâmicas escolares, haverá o suporte constante (orientações coletivas e individuais, mediações e acolhimento) até que as coisas fluam sem a necessidade de intervenções.


Com a pandemia e a quarentena, quais questões podem ser mais sensíveis para esses jovens durante essa transição de segmentos?
De uma certa forma, todos as mudanças e desafios relatados acima continuarão existindo, mas o que temos visto é que, nesse momento em que vivemos, muitas dessas coisas se potencializam e passam a adquirir um status superdimensionado. Além disso, o momento também traz incertezas em si mesmo que são desafiadoras, mas destaco duas questões que poderão permear o imaginário de dúvidas desses jovens: a aprendizagem e as relações.

Todo o engajamento atual da equipe Pioneiro é garantir uma aprendizagem significativa mesmo à distância, mas a comparação com o modelo presencial pode dar a sensação de que ela não esteja acontecendo e de que isso poderá acarretar em problemas futuros. Nosso papel é garantir e mostrar que, na verdade, o momento permitiu que desenvolvêssemos diversas novas formas de aprender, inclusive novas habilidades, e de que aquilo que está sendo desenvolvido hoje já faz parte de um planejamento maior, que inclui todas as adequações para que a aprendizagem, quando retomada no modelo presencial, continue sendo significativa, sem prejuízos e pensada para a nossa comunidade.

Uma das grandes perdas do distanciamento social foi a dinâmica das relações pessoais e isso para os/as alunos/as que ingressam no 6º ano é muito significativo, pois a escola não é apenas o lugar da aprendizagem, mas também (e talvez principalmente para essa geração) o espaço das relações. Assim, teremos que lidar, juntamente com eles/as, com o medo de como essas relações se estabelecerão no pós-pandemia, pois a vivência recente que levarão de 2020 para 2021 foi a de que essas relações pouco aconteceram, uma vez que olhar um amigo ou amiga na tela do celular não substitui a presença física. Mas estaremos ali com eles/as para refletir sobre essas dinâmicas.


Como a tutoria pode auxiliá-los nessa fase?
A Tutoria hoje é composta por mim e pelo professor Renato L. Ranieri, e tem um lugar estabelecido no Ensino Fundamental II (inclusive físico: nossa sala fica no quarto andar) que é de: escuta, reflexão, mediação e orientação, ou seja, utilizamos dessas possibilidades para auxiliar nossos/as alunos/as a terem um processo de aprendizagem que seja significativo e o mais integral possível. Para isso, entendemos que a dinâmica escolar (que envolve as relações, organização, como estudar, o emocional etc) precisa ser cuidada a todo momento. Os/as alunos/as dos 6ºs anos se apropriam rapidamente desse espaço estabelecendo um vínculo e, assim, a Tutoria passa a ser uma referência na rotina escolar.

“Nas dinâmicas escolares, haverá o suporte constante até que as coisas fluam sem a necessidade de intervenções.”


A escola e os professores também estão preparados para acolher esse aluno?
Sim, a escola e os/as professores/as estão preparados/as para acolher os/as alunos/as que chegarão no 6º ano. O que foi relatado anteriormente explicita essa preparação. No entanto, é sempre importante relembrar que a educação é um processo, o que significa que as coisas não acontecem em um momento e pronto, mas são construídas e se dão na dinâmica individual e das relações (sala de aula, por exemplo). Dessa maneira, temos um olhar para as características particulares de cada turma e de cada aluno/a.

Falar em preparação também significa estudar, se formar, e essa é uma caraterística da equipe pedagógica do Pioneiro. Há um movimento constante de formação e reflexão. No EFII, estamos agora em formação (ao longo de todo o ano) com o Grupo de Estudos e Pesquisa em Educação Moral – Gepem, da Unesp, trabalhando justamente as questões da aprendizagem ligadas às relações coletivas. Então, estar preparado/a não é ter receitas e respostas para todas as situações, porque não temos (nem é possível ter), mas é estar capacitado para refletir e lidar com os desafios que surgirem, inclusive no acolhimento das turmas.

“O momento permitiu que desenvolvêssemos diversas novas formas de aprender, inclusive novas habilidades.”


Haverá mais disciplinas, mais professores, mais livros, mais cadernos… como o aluno pode se organizar melhor?
Um dos nossos focos de trabalho quando os/as alunos/as chegam no 6º ano, antes de trabalhar qualquer conteúdo ou habilidade específicos de uma disciplina, é ajudá-los/as em sua organização pessoal (como estudar cada disciplina, o que levar na mochila, anotação de lição, registros etc) e espacial (o que deixar na carteira, organização do armário etc), além de terem durante todo o EFII o suporte da Tutoria, para auxiliá-los/as inclusive individualmente, quando necessário.

O que os alunos podem esperar do 6º ano em 2021, com tantas incertezas e mudanças impostas pela pandemia do novo coronavírus?
A pandemia impôs para nós muitas perdas e incertezas em 2020 que ecoam no futuro e fogem do nosso controle. No entanto, o nosso desejo (e estamos trabalhando para isso) é que nossos/as alunos/as do 6º ano de 2021 possam ter um espaço de muita esperança, de acolhimento, de novas descobertas, de novas aprendizagens, de novas relações e inclusão, que nos aguarda para construirmos juntos e juntas!

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