As coordenadoras de Matemática do Pioneiro, Sathiko Fujino Rey e Dalva Seiko Suyama Conde, explicam como o pensamento matemático é construído desde o Ensino Infantil e desenvolve-se em espiral até o Médio
Por Naila Okita Shimizu
O Centro Educacional Pioneiro sempre trabalhou a Matemática em três aspectos: resolução de problemas, cálculo mental e raciocínio lógico. Mais do que fórmulas, números e contas, o nosso aluno é incentivado a entender o pensamento matemático, fundamental para compreender conceitos e construir conhecimento. “Um dos pontos fortes da nossa Matemática é o estímulo à resolução de problemas”, comenta Dalva Seiko Suyama Conde, coordenadora da disciplina para os Ensinos Fundamental II e Médio. “Dessa maneira, o jovem aprende a organizar o pensamento, desenvolve raciocínio lógico, criatividade e curiosidade.”
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O currículo é pensado a partir do modelo em espiral, no qual aprofunda-se o conhecimento de forma progressiva. É uma proposta de aprendizagem contínua que parte de conceitos simples, retomados constantemente de forma cada vez mais complexa, e que valoriza hipóteses e raciocínio do aluno. “Temos algumas aulas só para resolução de problemas, nas quais propomos desafios em que o aluno não pense imediatamente ‘preciso fazer uma soma ou uma subtração’; na verdade ele nem precisa fazer contas. O objetivo é fazê-lo pensar, desenvolver o raciocínio lógico”, comenta Sathiko Fujino Rey, coordenadora de Matemática da Educação Infantil e Ensino Fundamental I. “Queremos do nosso aluno que ele aprenda não somente a usar a ciência, mas entenda que ele pode criar a ciência”, completa Dalva.
Na conversa a seguir, Sathiko e Dalva comentam o ensino da Matemática no Pioneiro, e como os alunos são estimulados a utilizar o pensamento matemático antes de serem introduzidos a teoremas e fórmulas.
Pioneiro – A Matemática tem fama de ser uma disciplina na qual você precisa decorar muitas fórmulas e contas. É isso mesmo?
Dalva Seiko Conde – Vivemos em um momento de muitas informações. Desde pequenas, as crianças têm acesso a toda e qualquer informação, mas o nosso diferencial, enquanto escola, é a formação. A Matemática em si, como pensamento e cálculos, é a mesma desde milhares de anos atrás. No entanto, quem aprende é diferente e aprende de uma maneira diferente. Por isso, precisamos nos reinventar, inovar.
Sabemos que os alunos não vão apreender os conteúdos se tiverem que decorá-los. É preciso ter consciência de que se está aprendendo. Não se decora fórmula: se aprende como se chegou nessa fórmula, porque a Matemática é uma construção de saberes.
Sathiko Fujino Rey – O objetivo é fazer com que eles pensem sozinhos. Valorizamos muito o caminho que o aluno percorreu para chegar a um resultado. Toda vez que vamos entrar em uma matéria nova, por exemplo, primeiro damos em forma de problema para que eles pensem e cheguem a uma solução. Isso pode ser feito individualmente, em duplas, grupos etc. Depois, abrimos um painel de soluções, no qual eles podem expor seus pensamentos para a turma toda e explicar seus raciocínios. Geralmente eles apresentam propostas muito criativas! Veja um exemplo:
Nunca falamos se está certo ou errado. Deixamos que o grupo todo analise as soluções propostas, faça a validação dos métodos expostos e escolha o que considera mais adequado.
Então tem também esse processo de explicar para o outro, além de entender o porquê está fazendo algo e de que jeito. Nunca damos nada sem explicar o porquê.
“Não se decora fórmula: se aprende como se chegou nessa fórmula, porque a Matemática é uma construção de saberes.”
Dalva Seiko Conde
Pioneiro – Então primeiro é preciso fazer com que o aluno veja sentido no que vai aprender, para depois explicar as fórmulas?
Dalva – Isso! A Matemática é dada no Pioneiro fazendo relações. Temos que fazer com que ela tenha significado para esse aluno. Pergunta-se “quando ele vai aprender a regra de três? No 7º ano?” Não, o conceito ele já sabe desde muito antes, só não sabia o nome.
A criança começa a aprender os conceitos matemáticos desde o Infantil, com jogos e brincadeiras. À medida que avança os ciclos, é motivada e estimulada a resolver problemas simples. Uma ida ao supermercado, por exemplo. Se você precisar comprar um produto de limpeza, qual a melhor embalagem para otimizar o dinheiro? Uma de 1 litro que custa R$ 40 ou uma de 750 ml que custa R$ 25? O aluno vai usar a proporção, um raciocínio matemático, já do 4º para o 5º ano. Ele consegue aprender naturalmente, mesmo não sabendo as propriedades fundamentais matemáticas por trás disso.
Ao chegar no 7º ano, formalizamos a regra de três, mas ele já internalizou o que o cálculo significa e a razão de ele ter que fazê-lo. O estudante não decora, ele aprende o porquê aconteceu todo esse raciocínio. A diferença é que no lugar de um valor, colocarei uma letra. Essa transição da aritmética para a álgebra torna-se um processo mais tranquilo. Mas antes de ensinar a propriedade, o aluno precisa saber de onde ela veio.
“O objetivo é fazer com que eles pensem sozinhos. Valorizamos muito o caminho que o aluno percorreu para chegar a um resultado.”
Sathiko Fujino Rey
Sempre que possível, também introduzimos tópicos históricos para que eles entendam que a Matemática é uma criação humana. Fazermos um paralelo entre o desenvolvimento da Matemática e o desenvolvimento da Humanidade. Mostramos que diferentes povos e diferentes culturas em diferentes épocas contribuíram para o desenvolvimento da Matemática – que continua se desenvolvendo! Isso confere uma visão mais crítica em relação ao estudo da disciplina e dá uma perspectiva de fazer ciência, e não de apenas utilizá-la.
No curso Desafios da Matemática, alunos fazem atividade com Pentaminós Construir brinquedos faz parte do processo de aprendizagem
Pioneiro – Poderiam exemplificar o conceito de currículo em espiral?
Sathiko – Em todos os ciclos as crianças trabalham com números, geometria, probabilidade e álgebra, por exemplo, mas de maneiras adequadas às idades.
Pensemos na geometria. Desde o Infantil I eles aprendem os nomes corretos das figuras planas: círculo, quadrado, triângulo etc. No Infantil III, eles diferenciam os polígonos dos sólidos: vão manusear, verificar as diferenças entre cada forma. Já no 2º ano do Fundamental, eles aprendem lado, vértice e por aí vai.
Então trabalhamos a geometria desde cedo e vamos aprofundando, com outro enfoque, até o 5º ano. A partir do 6º, toda essa base está pronta para que eles possam utilizar na disciplina de Desenho Geométrico.
Pioneiro – E como é estimulado o pensamento matemático na Educação Infantil?
Sathiko – Trabalhamos com os menores através de brincadeiras e jogos e introduzimos os números e resolução de problemas. Claro, problemas adaptados à idade deles. Por exemplo, pergunto “como vocês fariam para dar um lápis para cada um?”. Tem criança que vai pegar um punhado de lápis na mão, e terão alguns a mais, mas serão distribuídos até sobrar. Tem criança que vai pegar lápis a menos e distribuir, e perceber depois que vão faltar alguns. Mas tem criança que vai pegar o número exato porque já contou antes quantas crianças tinham. É no Infantil que elas passam a relacionar número com quantidade.
Também trabalhamos muito o cálculo mental. Por exemplo, falamos que dentro de uma caixa tem 3 bolinhas, mas não mostramos para as crianças. Colocamos então mais 4 bolinhas e perguntamos quantas bolinhas têm dentro da caixa. E eles respondem sem precisar fazer a contagem um a um.
São brincadeiras, mas todas têm uma intencionalidade pedagógica.
Dalva – É um legado da Professora Elza Babá Akama*. Ela escreveu vários livros, principalmente para crianças. Ela sempre dizia que a base são os pequenininhos! É preciso valorizar o potencial da criança.
* A professora Elza Babá Akama foi referência nacional em Matemática. Atuou nos anos 70 e 80 na Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas (CENP), órgão ligado à Secretaria de Estado da Educação, no qual participou da elaboração do Guia Curricular de Matemática – Geometria. Iniciou seu trabalho no Centro Educacional Pioneiro em 1979 como orientadora pedagógica. Passou a supervisora , coordenadora da área de Matemática, assessora pedagógica e diretora honorária. Faleceu em 2017.