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Vínculo, ansiedade e aulas: professor conta como tenta se adaptar à quarentena

20 de abril de 2020

Michael Luis dos Santos
Professor de História

Quando as notícias sobre o alastramento da pandemia foram ganhando corpo em toda a imprensa mundial, e houve o decreto do isolamento social em São Paulo como forma de frear o contágio, reagi a isto com grande apreensão por ser algo novo na minha vida (e na de milhares de pessoas). Na escola, no dia 15 de março, já sem aulas, fizemos rapidamente um curso intensivo de como se apropriar da ferramenta (Moodle) que nos possibilitaria manter a rotina de conteúdos para os alunos.

“Junto de uma pandemia tínhamos também uma “infodemia” – as notícias (verdadeiras ou fake) se espalhavam muito mais rápido que a própria doença”

Já no dia seguinte, senti uma forte crise de ansiedade, pois de repente toda uma rotina fora quebrada por uma situação emergencial (e quase que de guerra). Essa minha ansiedade se deveu ao fato de que, de uma hora para outra, o medo da morte passou a pairar sobre minha cabeça. Percebi isso ao longo da primeira semana, ao assistir ao noticiário do dia, e aí notei que junto de uma pandemia tínhamos também uma “infodemia” – via que as notícias (verdadeiras ou fake) se espalhavam muito mais rápido que a própria doença.

Isso me impactou tanto emocionalmente que senti dificuldades em reorganizar meu cotidiano, pois sentia a necessidade de me reorganizar primeiro: fui buscar na filosofia o meio para entender esta situação e, desde o dia 15 de março, venho me ocupando com as leituras dos filósofos estóicos (Epicteto, Sêneca e Marco Aurélio), indicados também pelo meu terapeuta (que agora atende todos os pacientes virtualmente).

Baixada a ansiedade, vi que era necessário replanejar o cotidiano e fazia todo o sentido para mim a palavra “planejamento”, já que era preciso manter uma rotina mínima para dar conta de todo trabalho. Uma estratégia que mantive foi acordar no mesmo horário em que acordava quando ia ao trabalho. Deu certo, pois o corpo não sentiu tanto, mesmo que a tentação de ficar na cama fosse grande.

“Percebi que o contato, o vínculo com eles (alunos), era o mais importante, porque no ambiente virtual tudo acaba assumindo uma feição mais impessoal”

O que ajudou no (re)planejamento foi a reunião virtual com a área de Humanidades onde, em grupo, discutimos sempre as nossas ações pedagógicas e, claro, o contato com todos é importante. Minha tarefa, a seguir, era a postagem de atividades para os alunos e manter a “normalidade” de uma aula. No entanto, percebi que o contato, o vínculo com eles, era o mais importante, porque no ambiente virtual tudo acaba assumindo uma feição mais impessoal e, para mim, era necessário mais que rapidamente ver os alunos.

A primeira videoaula foi mais um bate papo para acalmar todos os ânimos, todas as angústias (inclusive a minha). Nesta primeira “aula”, fizemos combinados de como a nossa rotina seria organizada: a mim coube postar, primeiramente, todo o material necessário para a compreensão da aula no Ensino Médio, do 1º ao 3º ano. Eles desenvolvem a habilidade de pesquisar (decorrente do trabalho coletivo) de maneira autônoma. Essa aula invertida que propus (junto com o coordenador de Humanidades, Mário Fioranelli Neto) é um dos diferenciais do Pioneiro. Além, claro, do nosso diferencial humano, pois sempre pergunto aos alunos sobre o que querem conversar, respeitando também a carga de material que eles têm de outras matérias.

“Está sendo o período em que mais estou lendo”

Sobre o meu planejamento, só queria frisar que ao longo da semana estipulei horários de trabalho específicos nos dias da semana, alternando com leituras e lazer (filmes, séries, jogos) e, claro, o contato, mesmo que virtual, com os amigos da escola. Para alguém como eu, com dificuldade de se organizar, esse evento foi uma grande lição.

Aliás, está sendo o período em que mais estou lendo (até este momento, foram uns sete livros), entre literatura e livros acadêmicos.

Outra grande surpresa foi que conseguimos manter as aulas de teatro com a professora Rozangela Rodrigues, adaptando para os encontros virtuais, e confesso que o mesmo ânimo que todos os integrantes temos nas aulas presenciais, temos também nas virtuais. Fazer os exercícios e encontrar todos é uma grande válvula de escape que me ajudou bastante.

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