Quem foi Dona Michie Akama?

21 de fevereiro de 2019

Em 2019, a Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama completa 60 anos. Mas você sabe quem foi Dona Michie? Conheça a história da fundadora do Centro Educacional Pioneiro, que abriu mão de tudo o que possuía para tornar realidade o sonho da educação

Dona Michie Akama e alunos do Centro Educacional Pioneiro

No Japão

Michie nasceu em 18 de setembro de 1903 na província de Miyagui, no Japão, filha do senhor Nenosuke Ota e de Dona Tsuji Ota. Formou-se em 1922 na então Escola Técnica Feminina Watanabe de Tóquio (atual Tokyo Kasei University) e lecionou por cinco anos na antiga Escola Profissional da cidade de Sendai, atual Universidade Mishima.

Com o país em crise devido à Queda da Bolsa de Nova York em 1929, ela veio para o Brasil em 1930, no navio Montevideo Maru, desembarcando em Santos com o marido Jiuji Akama, pesquisador formado em Oceanografia pela Universidade Imperial de Hokkaido e também professor. Ao se despedir de suas alunas no Japão, Dona Michie disse “daqui a 10 anos estaremos de volta!”, porque havia planejado retornar ao Japão após um tempo na América do Sul. Mas a história não foi bem assim.

Dona Michie (sentada, ao centro) durante festa no Japão antes de embarcar para o Brasil

No Brasil

Inicialmente, Jiuji Akama tinha intenção de trabalhar com a pesca marítima por aqui, mas se deparou com restrições quanto ao trabalho de imigrantes nessa atividade. O casal, então, foi trabalhar em uma fazenda de café na cidade de Cafelândia para ganhar dinheiro.

No ano seguinte, Jiuji foi convidado a lecionar em uma escola da colônia japonesa em Registro e se comoveu com a precariedade da formação das jovens, que trabalhavam dia e noite. Foi então que os Akamas decidiram montar uma escola de formação para moças nos moldes da Escola Mishima, onde Dona Michie lecionava no Japão, aproveitando os conhecimentos adquiridos na terra natal.

Por isso, em fevereiro de 1932, Michie se matriculou em uma escola de corte e costura e no mesmo ano obteve a habilitação para magistério de ensino profissionalizante, necessária legalmente para dar aulas.

Até que, em 1933, eles abriram uma Escola de Corte e Costura e Língua Japonesa em São Paulo (São Paulo Saihou Jogakuin), em uma travessa da rua São Paulo, no bairro da Liberdade. A entidade funcionava como um internato para moças. Elas tinham aulas de corte e costura, culinária, língua japonesa, trabalhos manuais etc. Ao final do curso, elas recebiam um “atestado de bom partido”, com garantia de idoneidade ética e moral. A escola agregava os valores japoneses e o curso era montado de acordo com os moldes de uma escola brasileira.

Dona Michie (centro, de preto) e suas alunas da escola de Corte e Costura

Mudanças

Em 1935, Dona Michie e seu marido inauguraram na escola um curso de língua japonesa de nível médio, para dar à colônia local a oportunidade da educação formal das escolas japonesas. Inicialmente importando do Japão material didático equivalente ao utilizado lá, mais tarde trouxeram também professores de formação universitária para lecionarem no Brasil. Além disso, estavam inclusas no programa de ensino atividades artístico-culturais como música, pintura, tanka (poesia japonesa) etc.; e aulas práticas de culinária, ensinando o processo de preparo de conservas e tratamento de produtos alimentícios naturais.

Aula de práticas instrumentais na Akama Gakuin

Foi nesse período também que adequou o currículo para atender às exigências dos Exames de Habilitação do Magistério Profissional de Corte e Costura. Cerca de 40 jovens eram aprovadas por ano, obtendo o diploma para que pudessem lecionar Corte e Costura em cidades mais afastadas para aquelas que não conseguiam se deslocar até São Paulo. “Foi inestimável a consequência que tudo isso trouxe no sentido de animar pacatas cidades do interior proporcionando estímulos e esperanças às jovens ao iniciar a vida”, escreveu Dona Michie em carta.

Em 1939, Dona Michie e seu único filho, Antonio, foram ao Japão para realizar estudos pedagógicos, e Jiuji Akama faleceu de forma repentina no Brasil enquanto eles estavam fora.

Turma de 1961 da São Paulo Saihou Jogakuin

Ao final da 2ª Guerra Mundial, o interesse da escola se voltou para as possibilidades de integrar os jovens à sociedade brasileira. Por isso, Dona Michie decidiu incorporar à grade matérias oficiais do ensino médio brasileiro, como português, latim, francês e inglês. Para isso, contratou professores com formação universitária no Brasil.

Dessa maneira, suas alunas sairiam da escola sentindo-se parte da sociedade brasileira e sem o sentimento de inferioridade, já que dominavam também a língua portuguesa, atuando posteriormente em diversas áreas como bancos e empresas.

A Fundação

Dona Michie se naturalizou brasileira na década de 50 para se dedicar à formação de jovens brasileiros. Em 1959, oficializou a Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama, doando todos os seus bens para a entidade por entender que a escola não pertencia a ela, mas à comunidade.

Ela também abriu mão de tudo o que tinha para assegurar que seu sonho de construir e manter uma escola não fosse perdido após uma ou duas gerações. “[Uma Fundação] não é uma organização particular onde as questões se limitam ao âmbito familiar, dos filhos ou netos. É uma organização que será assumida e conduzida por membros capacitados”, escreveu. O objetivo era “abrir novas possibilidades para que pudesse ser realizada uma educação ideal e uma administração perfeita e, ao mesmo tempo, assegurar à escola uma existência permanente”.  

E foi assim que, em 1971, viabilizou-se a construção do Centro Educacional Pioneiro na Avenida Doutor Altino Arantes, em São Paulo. Não era mais um internato para moças, mas uma escola de ensino básico aberto à toda a comunidade e mantido pela Fundação. Em 2001, a fundadora do Pioneiro viu mais um sonho se realizar com a implementação do Ensino Médio no colégio.

Dona Michie foi presidente da Fundação até 2004. Ela faleceu no ano seguinte, aos 102 anos.

Atual fachada do Centro Educacional Pioneiro

Homenagens recebidas

1967 – Comenda José Bonifácio, pela Sociedade Brasileira de Heráldica e Medalística
1973 – Medalha Anchieta e o Diploma de Gratidão da Cidade de São Paulo, concedidos pela Câmara Municipal de São Paulo, como reconhecimento pelo seu trabalho pelo município
1974 – Condecorada pelo imperador Hiroito com a Ordem do Tesouro Sagrado (Zuihoushou) de 5º Grau, no Japão
1977 – Medalha Ana Neri, da Sociedade Brasileira de Educação e Integração
1983 – Comenda Ordem do Ipiranga, honraria mais elevada concedida pelo governo do Estado de São Paulo aos cidadãos brasileiros e estrangeiros por seus serviços aos paulistas
2001 – Homenageada pela Universidade de São Paulo (USP) no encerramento das comemorações do 90º aniversário da imigração japonesa no Brasil

Dona Michie Akama em sua biblioteca pessoal

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