“Quanto mais criança somos, mais esperança temos.”
Suzana Pedroso
Certa vez, uma criança me abordou no corredor e fez a seguinte pergunta: “você aprende alguma coisa com a gente?”. Para seu espanto minha resposta foi positiva e como boa adulta, eu já estava com vários exemplos para dar, mas ela apenas deu um sorriso (de satisfação? Não sei) e retornou à sua sala. Toda vez que lembro desse episódio reflito sobre a imagem que criamos sobre o que é ser adulto. O adulto é sempre visto como o que possui o conhecimento e que raramente está errado – ainda mais se for professor – e a criança como a “esponjinha” que absorve o que o lhe é ensinado. Mas será mesmo assim?
A rotina exaustiva dos adultos restringe a capacidade de se encantar com o mundo e muitas vezes ocasiona a perda da imaginação, e é ao se permitir observar uma criança, que o adulto pode concluir que muito pouco sabe sobre viver. Pode perceber uma abundância de ensinamentos vindo dos pequenos.
A criança pratica a solidariedade sem esperar nada em troca e sem fazer distinção, doa o que tem a quem precisar, age instintivamente. É espontânea, diz o que pensa e sente, canta e dança quando tem vontade. Demonstra seus sentimentos de maneira enérgica, seja dor ou alegria, ela sente com vontade, exprime com intensidade. Divide emoções, compartilha naturalmente momentos e experiências, partilha conhecimento não o tomando para si e está sempre disposta a aprender. Por não ver os problemas como excessivos, cria soluções simples. Enquanto nós, adultos, fantasiamos que o problema é bem mais complexo do que realmente é e sofremos com antecedência por usar a imaginação de modo negativo e oposto ao modo da criança.
A fantasia, a imaginação da criança, a permite refletir e se encantar pelo singelo. Permite inventar o que ninguém jamais pensou, ser o que quiser, visitar lugares distantes (às vezes inexistentes). Ela planeja, soluciona e não teme errar, tudo é sempre novo, causa deslumbramento. A criança tem o dom do perdão, pois quando magoada, desculpa e retoma a amizade dando uma (às vezes várias) nova chance. Talvez reaja assim por – internamente – saber que a vida é curta para se viver de mágoas e que os momentos quando compartilhados são mais intensos e significativos. Para a criança não existe o impossível quando se sonha, não há limites, não há riscos. Ela pensa assim porque usufrui intensamente das pequenas alegrias do agora, vivendo cada dia como se fosse único.
Durante essa minha jornada, tanto dentro como fora da escola, aproveito as oportunidades para observar diferentes crianças, cada uma com suas particularidades, com seus anseios e ensinamentos, a fim de não deixar que o encanto se perca com as incumbências diárias e pôr em prática o que tento não esquecer conforme os anos vão passando. Enquanto as ensino a desvendar letras e números, me ensinam a apreciar a vida.
E você… já observou uma criança hoje?
Professora Débora Freitas – Infantil IIA