O papel da escola na alimentação das crianças

24 de setembro de 2018

Saiba um pouco mais sobre o trabalho do Pioneiro na escolha dos alimentos e na conscientização das crianças sobre a importância de comer com qualidade

Turma leva pra casa sacola do projeto “Quitanda”

O número de crianças que almoçam e até jantam no restaurante ou na cantina da escola nunca foi tão grande. Cerca de meio milhão de estudantes matriculados em período integral em todo o Brasil realizam pelo menos uma refeição na escola, segundo o último Censo Escolar da Educação Básica, realizado pelo INEP, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira.

A permanência maior dos estudantes no ambiente educacional é uma boa notícia do ponto de vista pedagógico, uma vez que aumenta o tempo de exposição da criança a uma rotina de aprendizados; e também uma boa notícia do ponto de vista nutricional, já que boa parte das escolas se preocupam, cada vez mais, com a qualidade dos alimentos que chegam aos alunos. Desde o início de 2018, todas as crianças do Ensino Infantil do Pioneiro passaram a se alimentar exclusivamente de refeições e lanches preparados na escola.

A coordenadora Débora Martins, do Ensino Infantil e do 1º ano do EFI

“A ideia é ampliarmos o repertório alimentar dos nossos pequenos pouco a pouco”, disse Débora Martins, coordenadora do Ensino Infantil e do 1º ano do Ensino Fundamental I do Pioneiro. De acordo com ela, ao abolir as lancheiras nessa idade, evita-se que alimentos industrializados vindos de casa rivalizem com frutas ou lanches oferecidos pela equipe de nutrição da escola. “Ao oferecer o mesmo alimento a todas as crianças, fica mais fácil trabalhar a aceitação e o conceito de alimentação saudável”, afirma.

Comer bem tem de começar cedo. Ao dar início a uma jornada alimentar de qualidade já nos primeiros anos de vida, a escola contribui para um desenvolvimento saudável e feliz de seus alunos. Também apoia os pais na missão de educar os filhos para que façam escolhas nutritivas fora da escola, seja em casa, em um lanche no shopping ou em qualquer lugar sem a supervisão de um adulto, evitando, entre outras coisas, o mal moderno da obesidade infantil.

O trabalho vem dando certo, revela a coordenadora. Isso vem acontecendo especialmente porque criou-se uma parceria entre a escola e as famílias. Os pais têm compartilhado as questões alimentares de cada uma das crianças e os projetos vem sendo desenhados para trabalhar essas demandas. A grande vantagem do coletivo, segundo Débora, é que em grupo as crianças costumam ter uma motivação maior para provar o novo, descascar uma banana sozinha e experimentar uma colherada de legumes.

Cris prepara receita com as crianças do Infantil

Soma-se a isso o fato de o PIO ter o apoio de uma equipe de nutrição. A nutricionista Cristiane Sumida, há 20 anos na escola, atua de forma integrada aos projetos que tratam de alimentação saudável. Ela não só abastece as crianças de informações teóricas nutricionais, como empresta a sua cozinha às receitas dos pequenos. “Sem forçar ou negociar, estimulamos as crianças a tocarem e cheirarem os alimentos. Aos poucos elas se encorajam a experimentar e vão descobrindo novos sabores”, diz . A seguir, ela conta o que mudou no comportamento das crianças, das famílias e nas práticas da escola ao longo de duas décadas de trabalho.

 

Por que vocês insistiram para que a alimentação no Ensino Infantil fosse oferecida pela escola?

Cristiane: Era um desejo antigo oferecer o mesmo lanche a todas as crianças. Isso facilita a introdução de novos alimentos. Os pais apoiaram a iniciativa e estamos seguindo firmes, sempre com muito diálogo, ajustes e troca de informações. Importante dizer que não houve acréscimo na mensalidade e que a medida é pedagógica.

Ter uma alimentação saudável é o mesmo que dizer que a criança não deve comer doce ou uma fritura?

Cristiane: Não. O ideal é evitar os extremos de ambos os lados. O radicalismo é sempre ruim. É preciso que a gente encontre o equilíbrio e saiba fazer escolhas certas. Para isso, a alimentação saudável tem de ser algo prazeroso, não pode se tornar um momento de tensão ou de barganha com a família. Não proibimos nada, mas ressaltamos as vantagens de fazer boas escolhas.

Está mais fácil ou mais difícil alimentar as crianças nos dias de hoje?

Cristiane: Por mais que a gente tenha ampliado o acesso às informações, acho que se tornou mais difícil alimentar as crianças atualmente. Isso se explica pela grande oferta de alimentos industrializados, açucarados e gordurosos, que estão nos comerciais e na mídia de um modo geral.

Qual o papel da família nesse contexto?

Cristiane: A escola dá sequência a um trabalho que deve começar em casa, com o exemplo dos pais e a oferta de alimentos saudáveis. É comum no período de adaptação à escola as famílias alertarem os professores que o filho não senta pra comer, que prefere o pão molinho e que não gosta de alface. É tudo válido, mas é importante saber que o ambiente coletivo favorece o aprendizado e que cada dia é um novo dia, e que precisamos acreditar que hoje vai dar certo, porque uma hora dá.

Pode nos contar um pouco sobre o projeto Quitanda?

Cristiane: Sim, foi um projeto pensado com os professores para expor as crianças a alimentos muito ricos nutricionalmente. Montamos uma espécie de quitanda e estimulamos as crianças a tocar, cheirar e observar alguns alimentos. O projeto despertou o interesse dos nossos  estudantes e gerou uma proximidade que muitos deles não tinham com a comida ao natural. No final, eles levaram os alimentos para casa e preparam receitas. Na escola, se divertiram preparando e provando um bolo de milho em uma oficina culinária.

Poderia nos dar algumas dicas de como gerar interesse da criança pela comida?

Cristiane: Muitas vezes a gente usa aquilo que já gera interesse para atrair a criança. No ano dos Jogos Olímpicos, por exemplo, fizemos a vitamina do campeão, e trabalhamos as características de cada um dos alimentos selecionados. A gente também aproveita a diversidade cultural do nosso país para apresentar os diferentes tipos de culinária e temperos. Em casa, levar a criança para a cozinha ou ao supermercado são boas estratégicas para aproximá-las dos alimentos.

Como você decide o cardápio das refeições das crianças?

Cristiane: As alimentações são balanceadas: há sempre um legume, uma fonte de carboidrato e de proteína. Procuro respeitar as preferências alimentares dos nossos alunos e oferecer o que eles gostam. Eles amam sopa de legumes com curry e arroz japonês. Mas quase sempre também temos arroz e feijão no almoço, que é o nosso costume. De vez em quando ofereço um oniguiri de lanche e até um estrogonofe com creme de tofu ao invés do creme de leite.

Fontes: Sociedade Brasileira de Nutrição, Associação Paulista de Nutrição e Associação Brasileira de Nutrição

 

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