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Reparação coletiva à comunidade japonesa no Brasil

7 de agosto de 2024

O dia 25 de julho de 2024 foi histórico para a comunidade nikkey do Brasil. A Comissão de Anistia do Ministério dos Direitos Humanos aprovou, em decisão unânime, um pedido de reparação coletiva a imigrantes japoneses pela perseguição e tortura sofridos durante os governos de Getúlio Vargas e Eurico Gaspar Dutra. O pedido foi feito por Mario Jun Okuhara, ex-aluno do Pioneiro e pai do Guilherme e da Mariana, e Associação Okinawa Kenjin do Brasil em nome da coletividade de imigrantes japoneses e de seus descendentes. Representando o Centro Educacional Pioneiro, estiveram presentes na sessão solene a diretora geral Irma Akamine Hiray, o diretor administrativo financeiro Luís Yokoyama e o aluno Vitor Hirano.

Dessa forma, o Estado brasileiro se desculpou formal e publicamente com toda a comunidade japonesa, perseguida durante a Segunda Guerra Mundial. “Quero pedir desculpas em nome do Estado brasileiro pela perseguição que os antepassados dos senhores e senhoras sofreram, pelas barbaridades, crueldades, torturas, preconceito, ignorância, xenofobia e racismo”, disse Eneá de Stutz e Almeida, presidente da Comissão, durante seu discurso.

Foi uma honra participar deste momento histórico tão importante e emocionante para a comunidade japonesa no Brasil. Agradecemos a Mario Jun pela coragem e pelo convite!

Contexto histórico
No período da Segunda Guerra Mundial, o Brasil alinhou-se aos países Aliados e declarou guerra aos países do Eixo, entre eles, o Japão. Por isso, os imigrantes japoneses e seus descendentes foram perseguidos em terras brasileiras. Qualquer tipo de reunião de japoneses, incluindo festas, aniversários e casamentos, era proibida. Quanto à língua japonesa, era proibido falar, lecionar, ler ou escrever.

Há também relatos de que o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) obrigava os imigrantes a pisar na bandeira do Japão ou no retrato do imperador para provarem sua lealdade ao Estado brasileiro. Centenas de imigrantes japoneses foram perseguidos, presos ou mortos durante essa época. Mais de 170 foram para o presídio da Ilha Anchieta, no litoral norte de São Paulo, onde sofreram torturas e maus tratos.

Muitas dessas tristes histórias podem ser encontradas no documentário “Yami no Ichinichi – O Crime que abalou a Colônia Japonesa no Brasil”, de Mario Jun Okuhara, disponível no Youtube; e no livro “Corações Sujos”, de Fernando Morais.

Pioneiro

Durante a Segunda Guerra Mundial, livros em japonês e o uso da língua japonesa em geral eram proibidos. Escolas japonesas foram fechadas. Dona Michie Akama, fundadora do Pioneiro, que na época era uma escola de Corte e Costura (Escola São Paulo de Corte e Costura), contou que suas alunas tinham que esconder os livros em japonês quando fiscais do governo passavam pela escola, substituindo-os por outros livros em português ou bordados em cima da mesa. A própria Dona Michie teve uma ficha aberta no DOPS, mesmo na ausência de qualquer acusação formal.

Ficha de Dona Michie no DOPS

Antes da Guerra, as alunas tinham aulas de corte e costura, culinária, língua japonesa e trabalhos manuais, e eram oferecidos cursos como o preparatório para o Magistério Profissional de Corte e Costura e o curso de Língua Japonesa de Ensino Médio. Algumas jovens acabaram levando esses ensinamentos para outras cidades do Brasil.

Assim como outras escolas de corte e costura da comunidade japonesa, a escola de Dona Michie se adaptou às exigências do governo brasileiro para se manter aberta durante o período de perseguição à comunidade japonesa no Brasil na Segunda Guerra Mundial. Por exemplo, mudou para um nome em português (Escola Tamandaré) e admitiu uma diretora brasileira, além de adotar material didático em português (embora os livros em japonês continuassem sendo utilizados).

Dessa forma, a escola conseguiu se manter e, em 1959, foi criada a Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama, uma entidade de direito privado sem fins lucrativos. Ao doar todos os seus bens para a Fundação, Michie assegurou à escola uma existência permanente, desvinculando-a do âmbito familiar, para ser conduzida por profissionais capacitados, em caráter voluntário, como diretores e conselheiros, modelo que perdura até hoje. 

Em 1971, a escola adota o currículo escolar brasileiro e passa a se chamar Centro Educacional Pioneiro. Atualmente, a escola atende desde a Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio.

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