Série: Você sabe quem sou eu?

20 de agosto de 2018

O texto a seguir é o último de uma série que deu o que falar. Desde o mês de abril publicamos memórias de professores com detalhes sobre como eram suas vidas quando tinham a idade dos alunos para os quais dão aula hoje. Nessa viagem ao passado, tiveram de recorrer aos pais, aos registros dos amigos e até aos antigos álbuns de fotos, na tentativa de resgatar o passado. Eles se divertiram e se emocionaram – e dividiram com a gente um pouco dos momentos que ajudaram a formar quem eles são hoje. A seguir, o relato da professora de matemática Dalva Seiko Suyama Conde, de 53 anos, para a série “Como eu era quando eu tinha a sua idade…”

Na minha casa tem pé de laranja, de abacate, a gente planta alface e até couve manteiga. O pomar é lindo e eu adoro passear no meio dele. Sou a quarta de cinco irmãs, tenho 13 anos e moro em Ribeirão Pires, região metropolitana de São Paulo. O papai é marceneiro e tem uma oficina no terreno de casa para fazer os móveis. A mamãe é costureira e faz roupas sob medida. 

Minha casa é simples, mas eu adoro. Tem um piso vermelho que a gente encera pra ficar bem brilhante. Na parede da sala tem um quadro de coruja com papel amassado. Fui eu que fiz na aula de educação artística. Não me canso de olhar pra ele. Como vocês podem imaginar, eu adoro desenhar com meu kit de giz Crayon.

Temos rádio em casa, mas só toca notícia. O papai usa até telefone, mas é só para atender aos clientes da marcenaria. De tempos em tempos, vejo a mamãe escrever cartas para os nossos parentes e colocar nos Correios.

Minha rotina é sempre bem parecida. De manhã bem cedinho eu tomo café e vou a pé para a escola de japonês. Como tem uma colônia japonesa grande por aqui, a gente vai em bando mesmo: cinco irmãs, primos e vizinhos. Cada um leva uma bolsinha de tecido com os livros, o caderno e o estojo. Eu e minhas irmãs sempre estamos de uniforme e cabelo chanel. Mamãe diz que cabelo curto não dá trabalho, mas a gente queria mesmo era deixar o cabelo bem compridão.

Na escola de japonês eu aprendo bastante sobre os costumes, sobre o idioma, pratico natação e tenho aulas de artes ao ar livre. Adoro desenhar paisagens. No dia do Undoukai (gincana esportiva) eu levo um lanche especial: oniguiri (bolinho de arroz) e omelete, uma delícia!

Assim que eu saio da escola japonesa, almoço em casa rapidinho e vou para o colégio regular. Lá tenho aula de várias matérias, inclusive matemática, minha favorita. Aliás, tenho uma professora de matemática incrível! A Dona Helena Koga explica de um jeito tão fácil que eu entendo tudo de primeira. Ela também desenha os triângulos mais lindos que eu já vi na minha vida. Acho que vou ser professora quando eu for adulta. Você acredita que ela dá aulas de graça na casa dela para ajudar os alunos a passarem no exame admissional do Ensino Médio?  

Um dia desses minhas “amigas” me elegeram representante da sala. Elas sabiam que eu era tímida e na verdade queriam muito me ver passar vergonha em público. Fiquei bem constrangida, mas organizei a viagem de formatura bem direitinho.

Tenho lembranças boas de quando eu era mais nova. Lembro de sentar na cama de meus pais e ele contar histórias e cantar músicas japonesas pra mim. Mas o tempo passa rápido. Agora já sou adolescente e tenho até um paquera: o Mário, mas não conta pra ninguém”.

Dalva Seiko Suyama Conde, de 53 anos, é professora de Matemática dos 8ºs e 9ºs anos no Pioneiro.

Dalva e uma de suas turmas do 9º ano.

 

 

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