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Escola da Família: Dra Ana Escobar responde perguntas sobre ansiedade

29 de agosto de 2019

A pediatra esteve no Centro Educacional Pioneiro para falar sobre problema que afeta mais de 322 milhões de pessoas no mundo todo

No dia 15 de agosto, o Centro Educacional Pioneiro recebeu a visita da Dra Ana Escobar, professora e coordenadora do departamento de pediatria da Faculdade de Medicina da USP. Ela participou do Escola da Família, uma iniciativa que tem por objetivo informar pais, responsáveis, educadores e demais interessados sobre assuntos pertinentes à formação de crianças e jovens.

Dra Ana Escobar foi a segunda palestrante do Escola da Família de 2019

A Dra Ana falou sobre a ansiedade e depressão, duas realidades cada vez mais presentes na infância e na adolescência, e respondeu às dúvidas do público. De acordo com a Organização Mundial de Saúde, 11,5 milhões de brasileiros apresentam algum quadro de depressão, e 18,6 milhões de brasileiros têm algum tipo de transtorno de ansiedade*. E quais são as possíveis causas? Quais as consequências? Como prevenir?

Depressão
O transtorno de depressão é caracterizado por tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimento de culpa e baixa autoestima, falta de sono ou apetite, cansaço e baixa concentração. Ele pode ser duradouro ou recorrente, incapacitando a habilidade de um indivíduo de trabalhar, estudar ou viver o dia a dia.

Ansiedade
O distúrbio de ansiedade é um grupo de distúrbios mentais que se caracterizam por sentimento de ansiedade e medo, incluindo síndrome do pânico, fobias, distúrbios de ansiedade social, transtorno obsessivo-compulsivo e transtorno de estresse pós-traumático. Os sintomas variam de leves a severos, e a duração geralmente caracteriza um quadro mais crônico do que esporádico.

Fonte: relatório “Depression and Other Common Mental Disorders Global Health Estimates” da Organização Mundial de Saúde 2017

Prós
Primeiramente, é importante ressaltar que um dos “vilões” da modernidade, que são as telas (televisão, smartphone, tablete), têm um lado muito positivo.

As crianças do século XXI, como ressaltou a Dra Ana, enxergam o mundo de uma maneira completamente diferente de seus pais e avós. A tela abre um mundo de possibilidades para as crianças e jovens, apresenta um volume de conhecimentos e saberes aos quais eles poderiam nunca ter acesso se fosse como antes, apenas nos livros e, em alguns casos, apenas ao vivo.

Um exemplo que ela deu foi durante seu curso na faculdade de Medicina, quando ela lia em livros como funcionam os corações. Tudo era descrito em detalhes, e havia uma foto ou desenho para ilustrar. Hoje, os alunos podem ver um coração em 3D, ver o sangue correr nas veias e artérias, virar o coração por diversos ângulos, acelerar, retroceder. “É maravilhoso”, disse a pediatra.

Os próprios jogos, seja em videogame, seja em aplicativos, desenvolvem habilidades de raciocínio rápido. “As crianças hoje em dia pensam de maneira mais veloz, fazem conexões com mais facilidade. Desvendam o mundo com muito mais rapidez, têm capacidade de aprendizado mais ágil. E isso é ótimo”, comenta Dra Ana.

O público fez perguntas à Dra Ana Escobar ao final da palestra

Redes sociais
No entanto, há uma perda nesse processo. De acordo com a 30ª Pesquisa Anual do Uso de TI nas Empresas do Centro de Tecnologia de Informação Aplicada da FGV-EAESP, publicada neste ano, há 230 milhões de smartphones em uso no Brasil. Somando-se computadores, notebooks e tablets, o número chega a 420 milhões de dispositivos digitais para uma população de 208,5 milhões de habitantes. São mais de 2 dispositivos por pessoa.

O uso sem moderação de telas é uma das preocupações dos pais, e pode levar crianças e jovens a um quadro de ansiedade

Não à toa, a nova geração nasceu e vai crescer em um mundo em que a tecnologia faz parte do dia a dia. E parte dessa nova realidade são as redes sociais. Perde-se o contato humano, os laços presenciais são trocados por laços virtuais.

“É a chamada ‘socialização virtual’. Ontem, as amizades eram por afinidades em comum, tinham-se poucos amigos. Era só ligar e marcar de sair todos juntos. Hoje, uma pessoa chega a ter 500, 600 amigos mas fica sozinha no quarto a noite toda”, explica a Dra Ana. Segundo ela, esse estado ambivalente contemporâneo de estar “junto” mas, ao mesmo tempo, solitário, gera um desconforto que pode levar a quadros de ansiedade.

“É no ‘olho no olho’ que aprendemos a empatia. No WhatsApp não existe isso. Mesmo quando brigamos com alguém, precisa ser presencial, ver a pessoa, e não somente apertar o botão de ‘apagar’”, comenta.

O relatório Global Digital 2019, da agência We Are Social em parceria com a plataforma de mídia Hootsuite, aponta que quase 3,5 bilhões de pessoas no mundo são usuárias de redes sociais. No Brasil, temos 140 milhões de usuários de redes sociais, o que corresponde a 66% da população. A média diária mundial de uso dessas redes é de 2 horas e 16 minutos; no Brasil, a média é de mais de 3 horas e meia. Perdemos apenas para a Filipinas, cuja média diária é de 4 horas e 12 minutos.

Dra Ana alerta que as redes sociais criam “personagens virtuais”, que são versões das pessoas reais. “O jovem vê o amigo com belas roupas, frequentando lugares da moda, postando foto de comidas caras e isso pode afetar muito a autoestima dele.” Tudo isso pode agravar um quadro de ansiedade e depressão.

Imediatismo e valores
Outra consequência do uso constante e ininterrupto das telas é a incapacidade de esperar. Como tudo é muito rápido, a criança e o jovem não têm mais o ócio, o momento de parar. “É um eterno estado de tensão”, fala Dra Ana. “Não há momentos de relaxar, você sente que não pode perder nada.”

Dra Ana Escobar convidou a todos os presentes a uma reflexão sobre o que fazer para evitar a depressão nos jovens

Esse excesso de informação, a competitividade exacerbada sem valores de compaixão e amor ao próximo, o “precisar” ser melhor para se destacar, tudo isso pode elevar o estado de ansiedade da criança. “Infelizmente, o adolescente está inserido em uma sociedade onde os valores humanos se confundem com bens de consumo”, analisa a pediatra.

O que fazer?
Não há uma fórmula mágica. Apenas com muita conversa, muito carinho e empatia é possível prevenir os jovens de hoje de apresentarem quadros de ansiedade e depressão. E mesmo assim não é garantido.

A Dra Ana Escobar aposta no uso consciente das telas e das redes sociais, porque elas têm seu lado bom, e não é possível eliminá-las da vida das crianças de hoje. Diz que os pais devem ser autoridade, mas sem serem autoritários.

E foi enfática: “são com laços humanos que aprendemos a ser gente”.

Dados de 2017. “Depression and Other Common Mental Disorders Global Health Estimates”

Mario Sergio Cortella fala sobre família e ética no Pioneiro

Dra Ana Escobar
A Dra Ana é professora e coordenadora do departamento de Pediatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, autora dos livros “Boas Vindas Bebê 1, 2 e 3”. Tornou-se conhecida do grande público ao ser uma das consultoras do programa Bem Estar, da TV Globo. Embaixadora oficial da saúde da APAE de São Paulo, a Dra. Ana é também editora da Revista Crescer e Clinics, além de ter ser colunista do portal G1/Globo.

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