Bete Koga: uma trajetória de música e dedicação

12 de junho de 2020
Elisabete Koga

No dia 8 de junho, a comunidade do Centro Educacional Pioneiro recebeu a triste notícia do falecimento da professora de coral e música Elisabete Tae Kuwano Koga, aos 57 anos. Nossa querida Betinha, como era conhecida por seus amigos, familiares e colegas de trabalho, lecionou na escola desde 1996, inspirando centenas de alunos na música.

Veja o padlet colaborativo em homenagem à professora Bete (deixe sua contribuição)

Talentosa e muito esforçada, Bete era formada em piano, canto e coral, mas tocava também teclado, órgão e flauta doce. Fez Magistério para poder lecionar e desde cedo atuou em escolas.

Trabalhou com os ciclos Infantil, Fundamental e Médio no Pioneiro. Atualmente, era professora do Fundamental I, cuidando para que as crianças tivessem suas primeiras lições de musicalização de forma inspiradora, e ensinava flauta doce para os 5ºs anos.

Bete também estava por trás das festas de Encerramento da Educação Infantil e formaturas dos 9ºs anos e Médios. Era também figura importante nas comemorações e eventos de todos os tipos, como Páscoa e Mostras Culturais.

Sempre disposta a aprender, viajou o mundo realizando cursos, conhecendo outras culturas, visitando museus e buscando diferentes expressões musicais para levar a seus alunos.

As professoras Elisa Varro, de Música, e Rozangela Rodrigues, de Artes, tiveram um carinhoso convívio profissional e pessoal com a professora Bete e concordaram em contar com mais detalhes a trajetória da Betinha, que mostra seu jeito sensível e determinado.

“Em 2006, quando entrei no Pioneiro para lecionar Música para os 6ºs e 7ºs anos, conheci a professora Bete Koga, que era a professora de Música dos alunos da Educação Infantil e Fundamental 1 havia 10 anos.

Naquela época, o nome da matéria era Coral, porque o foco do curso era o canto. O canto era muito valorizado por ser, como acreditava o compositor e maestro Villa-Lobos, o instrumento que, guardando o bom funcionamento do corpo, toda pessoa poderia utilizar, aprendendo com a reverberação corporal o timbre, as alturas, ritmos e afinação.

Além do canto, a professora Bete desenvolvia muitas atividades de musicalização como expressão corporal, bandinha, leitura rítmica e melódica, culminando com o uso da flauta doce no 5º ano. Ela elegeu a flauta por ser um excelente instrumento utilizado no desenvolvimento auditivo, visto que a afinação é construída e regulada pelo sopro emitido, exigindo do aluno a apuração do grau de percepção, diferente de instrumentos como o piano, em que a afinação depende apenas do toque na tecla.

Fiquei encantada ao perceber o nível de afinação, sensibilidade e percepção auditiva dos alunos entregues a mim no 6º ano.

Trabalhou alguns anos com o Ensino Médio, em parceria com o professor de Artes, Acácio Aquino. O trabalho do Ensino Médio primava pela interdisciplinaridade. Bete explorou largamente a acuidade auditiva em todo seu trabalho inspirada no trabalho de Murray Shafer, denominado Paisagem Sonora.

Nos trabalhos de medidas sem instrumentos convencionais realizados nos estudos do meio do EM, ela estimulava os alunos a ouvirem o entorno e transformar essa audição em registros. Esses registros eram a princípio livres e, a partir destes, transformava-os ou não em convencionais.

Ela e o professor Acácio produziram com os alunos um grafite nos muros internos da escola inspirados na obra “Primavera” de “As quatro estações”, de Vivaldi. Bete estimulava transformação de obras de arte em música e obras musicais em arte.

Tinha formação musical, era pianista. Sua paixão pela educação a fez cursar Pedagogia. Tinha cursos de extensão cultural no Brasil, outros países da América do Sul e na Europa.

Em suas viagens para lugares da Europa, África, Ásia ou América do Sul, visitava museus, comprava partituras, livros e instrumentos de musicalização, conhecia novas metodologias musicais e ia a concertos. Não por acaso sua bagagem musical ser tão sólida.

Trabalhar com a Bete na escola, fazer cursos com ela ou ir à concertos ou museus eram momentos de alegria e aprendizado.

Em 2011, participamos da apresentação de Natal na Sala São Paulo. Tratava-se do projeto “TUCCA – Aprendiz de Maestro: Um Natal de Cada Canto”. Ela tocou junto à orquestra sob a regência do maestro João Maurício Galindo.

Desenvolvemos juntas diversos projetos no Pioneiro como mostras culturais, formaturas e Páscoas.

No Centenário da Imigração Japonesa, em 2008, diversos regentes conduziram um imenso coral que se espalhou por todo o sambódromo do Anhembi, apresentando-se ao Príncipe Naruhito. Foi um grande evento para a comunidade Pioneiro. Vários alunos e professores fizeram parte deste coral e a professora Bete teve o privilégio de, em meio a tantos regentes, ser uma das quatro a se postar em frente ao príncipe.

Ainda em 2008, levamos diversos alunos para cantarem no Natal do Banco Real, na Avenida Paulista, evento em que tocou e regeu.

Por sua sugestão, o tema “O que a árvore tem a ver com a música”, depois estendido para “O que a árvore tem a ver com a arte,” foi disparador de diversas atividades realizadas pela equipe de artes em 2012.

De 2015 a 2016, foi uma das curadoras do projeto “O Mundo nos Espelha”, que teve sua culminância na Mostra Cultural de 2016 do Pioneiro.

Participou da montagem de duas salas sensoriais em projetos distintos na escola. Por sua sugestão o projeto da sala sensorial de 2017 foi apresentado no ICLOC em 2018, fazendo bastante sucesso.

Muito antes de minha entrada no Pioneiro, o Sr. Antonio Akama (filho de Dona Michie Akama) entoou para Bete o Hino da Fundação Michie Akama. Ela se encarregou de escrever a partitura deste hino, tantas vezes entoado no Pioneiro. Graças a esta partitura, pudemos fazer um registro permanente no ano de 2019, data dos 60 anos a Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama.

Seu conhecimento de banda e coral era extenso. Nas formaturas, ela era a responsável pela banda constituída pelos formandos que queriam tocar. Criteriosa e detalhista, fazia com a banda quantos ensaios fossem necessários e isso garantia lindos espetáculos nas formaturas.

Ficava orgulhosa dos alunos que procuravam aprimorar seus talentos aprendendo novos instrumentos, ou como Ryu Wada, que continuou sua formação musical num curso superior.

Dona de um extremo bom gosto musical, deixou para as gerações de alunos que musicalizou seu exemplo de disciplina, alegria e paixão pela música.

Elisa Varro, com colaboração Acácio Aquino”

“A minha trajetória com a Bete vem de algum tempo atrás. Nosso convívio já tinha mais de duas décadas. Não fosse isso o bastante, Bete ainda foi a primeira professora de música dos meus dois filhos.

Nós trabalhamos juntas em dois colégios distintos, de modo que todos os projetos culturais nas escolas passavam pelas suas orientações.

Bete, com seu riso marcante, sua paciência extraordinária e seu rigor técnico, desenvolvia nas crianças uma refinada capacidade auditiva. Digo isso especialmente porque, ao longo dessas mais de duas décadas, conheci vários de seus alunos que se tornaram musicistas incríveis.

Bete era apaixonada pelo que fazia, apaixonada pelos estudos e dedicara grande parte da sua vida à arte de lecionar, especialmente aqui, no Centro Educacional Pioneiro.

A flauta e o piano eram dois dos vários instrumentos encantadores tocados por ela que, com toda dedicação e didática com que lecionava, passava horas na sala de música, mas estava sempre sorridente para nos receber com um simpático e entusiasmado: ‘Oi, amiga, entra! Entra!’.

Nesse extenso convívio, percebi a infindável devoção e o profissionalismo acadêmico que marcaram sua jornada; Bete jamais fez qualquer distinção, e sabe por que? Porque sua vocação sempre foi destinada às crianças, aos seus alunos.

Além das duas escolas, Bete também se dedicou às aulas particulares de música e desenvolveu, junto com seu esposo, um trabalho de formação com crianças e jovens na sua comunidade.

Assim era a nossa Betinha, que não divulgava o bem que fazia, mas sempre fê-lo humilde e silenciosamente.

Elisabete Tae Kuwano Koga; musicista, pedagoga, professora, maestrina, pianista, cantora e flautista; adorava viajar, conhecer lugares diferentes e fazer cursos. Um de seus maiores orgulhos era, de fato, ter conduzido o coral de alunos e professores do Pioneiro à frente do atual Imperador do Japão – Alteza Imperial Naruhito. Poucos sabem, mas Bete também foi uma das primeiras musicistas nikkey a viajar por diversos países com uma banda gospel. Outro de seus orgulhos era ter tocado, na tradicional Sala de Concertos da Estação Júlio Prestes – Sala São Paulo.

Essa era uma amiga; minha amiga. Recebia a todos com um sorriso e um abraço carinhoso.

O maior talento de um ser humano é a capacidade de ouvir. A minha querida amiga dedicou sua vida a ouvir crianças e jovens, que passaram pelas suas primeiras lições de musicalização.

É espinhosa a tarefa de tentar separar o nosso profissional do pessoal, porque foram inúmeros cursos juntas, visitas culturais, visitas aos ateliês de artistas como Manabu Mabe, almoços culturais juntas (e digo culturais porque eram literalmente dentro dos museus), sem contar o famoso cafezinho depois de visitar as exposições.

Querida amiga, você já faz falta por aqui.
Beijos,
Rozangela “

Betinha, muito obrigado por tudo!

Professora Bete regendo os alunos para uma apresentação ao Cônsul Geral do Japão em 2013

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