A formação de leitores críticos

18 de outubro de 2016

Com o objetivo de ampliar as habilidades de leitura, formando leitores críticos e mais bem informados sobre atualidades do Brasil e do mundo, adotamos como material didático para as turmas de 5º ano o Joca, um jornal idealizado especialmente para crianças.

A publicação é impressa e traz notícias, reportagens, entrevistas e curiosidades sobre assuntos atuais, com uma linguagem apropriada para a faixa etária. As atividades desenvolvidas com esse material tem proporcionado importantes discussões em sala de aula e é um sucesso entre os alunos.

leandroVamos compartilhar aqui uma dessas experiências…

Uma edição do jornal trouxe um artigo que tratava sobre estereótipos masculinos e femininos. Iniciamos uma conversa com os alunos com o objetivo de saber qual era a opinião deles diante dessas relações de gênero. Fizemos questionamentos como: Existe brincadeira só de menino ou só de menina? E brinquedos? E esportes? E cores?

A diversidade e a inconsistência de opiniões alimentaram a discussão, abrindo grandes possibilidades para a reflexão. Assim, propusemos que os alunos fizessem uma pesquisa sobre as profissões que antes eram exclusivas de um gênero, mas que aos poucos foram abrindo espaço ao outro.

Aproveitamos como exemplo Leandro Lima Merenciano, que atua como auxiliar de classe aqui no Pioneiro. Essa profissão é socialmente associada às mulheres, talvez por um dos mitos de papeis, o de que quem cuida de criança pequena é a mãe e também por outras questões de contexto sociocultural. O fato é que o cenário vem mudando, mesmo que lentamente e, por isso, sugerimos aos alunos que conhecessem um pouco mais sobre a profissão do pedagogo a fim de que pudessem elaborar questões para entrevistar o professor.

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O envolvimento dos alunos foi genuíno e revelador. A maturidade e a seriedade com que trataram o assunto surpreenderam o entrevistado. Acreditamos que essa foi uma ação muito potente, pois a reflexão sobre as relações humanas é de extrema importância para a promover a formação de um cidadão capaz de reconhecer e de assumir posturas contra a desigualdade, o preconceito e a violência.

Cátia Cristina Gaspar Hashimoto – Coordenadora pedagógica do Ensino Fundamental I. 

Selecionamos alguns momentos dessa interessante conversa.

Gabriel de Morais: O que te motivou e em quem você se espelhou para escolher a profissão de professor?

Leandro: Em toda a minha vida estive rodeado por professores. Nos momentos felizes e difíceis me lembro deles. Tive uma professora chamada Rosana T. Pimentel – ela era a melhor professora! –, porque ela dava sempre seu melhor para ensinar e a turma não era fácil. Quando eu a olhava pensava: “quero ser igual a ela, é isso que eu quero fazer”. Não tive dúvidas, fui atrás disso!

Laís Tsutsumi: Os seus pais te ajudaram a escolher essa profissão? Eles apoiaram a sua escolha?

Leandro: A minha família sempre soube que eu queria ser professor. E quando contei, eles não ficaram surpresos. Meu pai não é uma pessoa que terminou seus estudos e por isso não opinou muito em minha escolha profissional. Para ele, ter um filho com uma graduação era o suficiente. Quanto a isso, ele sempre me deixou fazer as minhas escolhas – minha mãe faleceu quando eu era pequeno e por isso falo do meu pai.

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Gustavo Leonini: Por que você escolheu essa profissão se ela é mais concentrada para mulheres?

Leandro: Quando decidi ser professor escolhi dar aula de matemática para o Ensino Fundamental II, mas fui percebendo que ainda não era o que eu queria como profissão. Percebi que queria trabalhar com as crianças nas séries iniciais, assim tive que mudar de faculdade para Pedagogia. Vi, realmente, que é uma profissão com número alto de mulheres, mas isso nunca foi um empecilho, porque escolhi a profissão pelo o que eu queria fazer, e não porque ela é considerada uma profissão ‘feminina’. Também sabia que há muitos países onde existem professores homens e que essa questão (de gênero) acontece no Brasil.

Daniel Soldera: No começo, seus amigos o apoiaram ou zoaram?

Leandro: Sempre tive amigos que me ajudaram bastante. Mas também tinham aqueles que diziam: “Nossa! Você vai ser professor?!Mas o salário é muito pouco… É uma profissão desvalorizada… Só tem mulheres trabalhando com crianças!”. Eu concordava dizendo que tinha realmente algumas questões ruins, que essa era a opinião deles e que eu a respeitava, mas era o que eu queria fazer, é o que gosto de fazer! Então fui atrás disso! Nunca liguei muito para o que eles diziam. Sempre fui atrás do que eu queria, independente do que eles me dissessem.

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Hiroshi Ito: Foi difícil conseguir emprego de professor de criança?

Leandro: Sempre tive muita ‘sorte’ para conseguir emprego. Nunca fiquei muito tempo desempregado. Acredito que ‘o que tiver que ser, será’. Fui indicado em duas escolas, fiz um bom trabalho e continuei. Mandei meu currículo para muitas escolas e o Pioneiro me chamou primeiro. Passei nas entrevistas e fui chamado para trabalhar. Uma semana depois de mandar meu currículo, já estava empregado. É por essa rapidez que me considero uma pessoa com sorte para conseguir emprego, principalmente em uma época em que o número de desempregados é alto. Conheço muitas pessoas que estão desempregadas há muito tempo.

Christopher Gilek: Se a escola não tivesse te contratado, o que você faria?

Leandro: O Pioneiro foi a primeira escola que me chamou, aceitei e comecei a trabalhar. Se não tivesse me contratado, eu tentaria emprego em outra escola, porque precisamos trabalhar!

Giovana Andrade: Quando você ficou lá no Infantil, como as crianças reagiram?

Leandro: Senti-me como um brinquedo novo (risos)! Sabem quando as crianças ganham algo novo e querem ver, brincar e descobrir como funciona? Foi assim que me senti nos primeiros instantes. As crianças estavam super envolvidas, pois um homem na Educação Infantil é raro, é ‘diferente’, até mesmo para elas, e chama a atenção; queriam que eu brincasse junto; mostravam-me seus brinquedos, demonstravam muito carinho.

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Victor Delecrodi: Qual foi o seu maior desafio no Pioneiro?

Leandro: Na minha primeira semana de trabalho fique no Adicional/Opcional com a equipe da professora Juára. Comecei a perceber o quanto os professores eram bons, muito mais experientes do que eu e o quanto ela era exigente! Depois fui percebendo que no Pioneiro todos são bons. Fiquei pensando se iria conseguir ser tão bom quanto esses professores. No final, acabei continuando no Pioneiro e passei de estagiário para auxiliar de classe. Esse foi meu maior desafio até agora: trabalhar junto a esses profissionais! Assumir uma sala, como professor titular, é o novo desafio.

Emily Hashimoto: O que você quer conquistar na sua vida?

Leandro: Como professor, quero assumir uma sala como titular. Sou recém-formado como pedagogo. E para o demais da vida, como sempre joguei xadrez, estudo e jogo muito, estou envolvido com muitos projetos. Já tenho uma pequena empresa que ensina xadrez nas escolas e por meio dela quero arrecadar dinheiro para fundar uma escola que tenha ênfase no jogo, pois os países que valorizam o xadrez, em sua maioria, são países desenvolvidos, têm influência política e respeitam e conservam sua cultura. Quem sabe não posso ajudar a melhorar o país por meio do xadrez? Tenho muito em que trabalhar, mas é um sonho a longo prazo.

Vejam mais imagens desses encontros aqui.

 

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