Óculos para entender

28 de agosto de 2015

Yasmim Tami Paulino Shimomichi – 2° ano do Ensino Médio – 2015

Assistir ao filme “Cidade de Deus” sem refletir sobre os elementos que cercam sua história é praticamente impossível. O premiado longa metragem nos induz a pensar sobre a sociedade brasileira como um todo, apontando para a origem de muitos problemas sociais que resistem à passagem do tempo. Mesmo retratando uma realidade extrema, o enredo nos permite relacionar os acontecimentos do filme a fatos cotidianos, como a violência gratuita, o preconceito e o desrespeito aos diretos humanos mais básicos.

O filme de drama brasileiro, lançado em 2002, mostra a trajetória de Buscapé e de outras figuras influentes na Cidade de Deus, considerada a comunidade mais perigosa do Rio de Janeiro, entre as décadas de sessenta e oitenta. Buscapé (Alexandre Rodrigues) narra a história a partir de seu ponto de vista, contando como a Cidade de Deus deixa de ser um pequeno conjunto habitacional e se torna uma grande comunidade que tem o narcotráfico como principal atividade.

Na infância de Buscapé, a Cidade de Deus ainda é relativamente pacífica e os moradores vivem sob influência do “Trio Ternura”, grupo de criminosos que realiza roubos para sobreviver. Algumas crianças veem o grupo com admiração, destacando – se a personagem de Dadinho, que, desde o começo da trama, mostra seu transtorno psicopata, como podemos ver na chocante cena de roubo ao motel, quando mata friamente somente por diversão.

Após o fim do grupo e com o passar do tempo, inicia-se uma nova era no filme. Já adolescente, Buscapé irá contar como Dadinho cresceu e se tornou Zé Pequeno (Leandro Firmino), maior traficante da região; e como as constantes disputas entre os traficantes irão mudar a rotina na comunidade.

Em segunda instância, o filme ainda tratará de conflitos morais a quais todos estamos sujeitos. Serão representados pelo personagem de Mané Galinha (Seu Jorge), trabalhador que quer apenas levar uma vida digna mas se vê no mundo do crime após entrar em uma vingança.

Citando aspectos técnicos, podemos chamar atenção para a movimentação das câmeras, que irá permitir acompanhar a tensão vivida em diversos momentos como, os de combates armados e de fuga; e também permitirá ocultá-la em cenas como a de estupro e a da morte de Bené no baile. Com o foco na ligação paralela entre a progressão da violência e o desenvolvimento das personagens, o grande mérito do diretor Fernando Meirelles vem por sua capacidade de retratar como cada um lidará com as dificuldades ao longo da trama e como as escolhas pessoais irão interferir na comunidade como um todo. Esses fatos fazem do enredo uma história envolvente e dinâmica, com a qual podemos nos identificar. E isso nos dará a impressão de que os 135 minutos de duração do filme se passaram em tempo muito mais curto.

Completamente imprevisível, o roteiro, de Bráulio Mantovani, indicado ao Oscar por “Melhor Roteiro Adaptado”, faz jus a sua indicação.  Com naturalidade ímpar, constrói perfeitamente cada personagem e cenários, ressaltando as peculiaridades dos mesmos e nos tirando o fôlego com suas reviravoltas ao longo da história.

Durante o filme, podemos nos perder em meio a tantas imagens de violência, que são extremamente impactantes (principalmente as que envolvem crianças) e fazem com que tenhamos vontade de tapar os olhos em diversas partes. Fato que é paradoxal, uma vez que a trama abre nossos olhos para importantes discussões, como, sobre a desvalorização da vida e a desigualdade social, e nos faz compreender um pouco do que ainda acontece atualmente.

Uma combinação tão fantástica de todos os elementos que compõem o filme não podia resultar em nada menos que o retrato honesto de uma realidade pouco conhecida e um divisor de águas no cinema brasileiro. Com simplicidade genial, “Cidade de Deus” é precursor de muitos filmes que ainda tratariam do mesmo assunto e essencial para os apreciadores de verdadeiras obras cinematográficas.

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Descrição da atividade

Resenha do filme Cidade de Deus (2002).

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