Quatro alunos do Ensino Médio do Pioneiro foram vencedores do Concurso de Astronomia para Estudantes de 2015, iniciativa da Olimpíada Brasileira de Astronomia (OBA) e do Laboratório Nacional de Astrofísica (LNA). São eles Camila Kunitake e Yasmin Paulino (autoras da redação vencedora) e Leonardo Nishioka e Rodrigo Rizzo (que conquistaram o segundo lugar).
O desafio era indicar um objeto astronômico interessante para ser observado com o Telescópio SOAR, com base no interesse científico e no apelo visual do objeto.
Confiram aqui os textos:
1º lugar – Galáxia NGC 1187 – por Camila Naomi Kunitake e Yasmim Tami Paulino Shimomichi.
“A constelação de Eridanus, o Rio Erídano, abriga a admirável galáxia espiral barrada (EB) NGC 1187, localizada a cerca de 60 milhões de anos-luz de distância da Terra. Também conhecida como PGC 11479, foi descoberta em nove de dezembro de 1784, por William Herschel, na Inglaterra, e localiza-se com as coordenadas: ascensão reta de 03h02m37,6s e declinação -22° 52′ 02”.
A partir da divulgação de uma imagem mais detalhada da galáxia feita pelo Observatório Europeu do Sul, em 2012, foi possível examiná-la com mais nitidez. Com destaque para as regiões azuladas e amareladas, pôde-se observar a existência de aproximadamente seis braços espirais salientes, formados por gigantescas quantidades de gás e poeira.
As regiões azuladas, partes externas, têm essa coloração como indício da presença de jovens estrelas nascidas de nuvens de gás interestelar. Já a região amarelada, central, tem essa cor devido a sua constituição: estrelas velhas, gás e poeira. As estruturas barradas, por sua vez, têm como finalidade transferir o gás dos braços espirais para o centro, tendo como resultado desse acúmulo a maior formação de estrelas nessa região.
Se observada por um telescópio amador, a galáxia de magnitude aparente de valor 10,6 e dimensões angulares 4,2′ x 3,2′; pode aparecer apenas como uma mancha tênue. Mas, quando vista por observatórios, a imagem produzida nos ilumina com uma combinação de brilho e simplicidade de cores ímpar.
A observação da NGC 1187 já seria válida somente por esse motivo, mas entre as razões científicas para o estudo estão: o monitoramento da estrutura da galáxia, a análise da evolução de sua população estelar e as últimas duas ocorrências de supernova nela observadas. Este fenômeno pode ser caracterizado pela explosão de uma estrela supergigante, que tem massa de pelo menos 10 vezes a massa do Sol. A primeira supernova dessa galáxia, SN 1982R, foi descoberta em 1982, no observatório de La Silla do ESO. E a mais recente, SN 2007Y, por Berto Monard na África do Sul, em 2007. Essa última com destaque especial, pois, na imagem mais detalhada de NGC 1187, é possível vê-la próxima a parte inferior da imagem, muito após o acontecimento de seu brilho máximo.
Quando nos deparamos com a figura dessa galáxia pela primeira vez, ficamos impressionadas com sua beleza e logo percebemos que a luminosidade de suas estrelas e as cores de seus braços espirais remetiam a mais famosa obra do pintor impressionista Vincent van Gogh, “A noite estrelada”. Na imagem de NGC 1187 vemos o predomínio das cores azul e amarelo e as formas circulares destacadas e bem definidas, isso também pode ser observado no quadro, juntamente ao contraste dos contornos e a ênfase às notáveis estrelas pontuais.
Com perfeição de uma obra de arte, essa galáxia nos deixa intrigadas a ponto de duvidar de sua existência. E faz com que ansiamos excessivamente por um olhar mais próximo dessa realidade.”
2º lugar – Galáxia NGC 1532 – por Leonardo Shogi Nishioka e Rodrigo Renosto Rizzo.
“A NGC 1532, localizada na Constelação Eridanus, com ascensão reta de 4h12min04,3s; declinação -32°52’27” e magnitude aparente de 10,7 V, passa a olhos despercebidos como apenas mais uma galáxia espiral barrada. No entanto, ela apresenta além de uma beleza estética deslumbrante, possibilidade de visualização de um evento astronômico muito belo e interessante com detalhes: a interação gravitacional entre galáxias, o que inspirou nossa escolha.
Tomando como ponto de partida suas características estéticas, podemos notar a alteração em sua coloração de acordo com a temperatura dos corpos que a constituem. Sua divisão em camadas é marcada pelo tom alaranjado no centro composto por estrelas mais antigas e frias conjuntamente com poeira. Já na zona periférica de suas espirais, encontram-se estrelas mais novas de temperaturas mais elevadas, o que lhe confere a coloração violeta e azulada. O contraste entre estes tons cria um efeito visual que lhe dá um imenso mérito a ser fotografada pelo telescópio SOAR.
Além de sua bela aparência, a NGC 1532 também nos permite visualizar um fenômeno intrigante. A galáxia espiral mantém interação gravitacional com a NGC 1531, que se encontra prestes a ser incorporada, através de um processo popularmente conhecido como “canibalismo entre galáxias”. Este evento, consiste na atração e “engolimento” de uma galáxia menor por outra maior através da força gravitacional, e atualmente já é amplamente estudado e pesquisado no meio científico. Foram realizados muitos avanços na compreensão da interação entre galáxias, através de estudos e descobertas como a obtida por astrônomos da Universidade de Cambridge acerca da incorporação de galáxias menores por nossa vizinha Andrômeda. No objeto astronômico escolhido pela dupla, já é notável o deslocamento de estrelas decorrente da extrema proximidade com a NGC 1531.
Descoberta pelo astrônomo escocês James Dunlop (ganhador da Medalha de Ouro da Royal Astronomical Society em 1828) em 1826, a cientificamente e esteticamente interessante NGC 1532 teve em 1981 a Supernova SN 1981A descoberta em seu interior, o que confere à galáxia um brilho ainda mais intenso e belo, algo que a configura conjuntamente com os fatores citados anteriormente como uma galáxia especial, merecedora de registros e estudos.”
Como prêmio pela primeira colocação no concurso de astronomia, as alunas Camila e Yasmin tiveram o privilégio de viajar ao Chile para conhecer o Telescópio SOAR (Southern Astrophysical Research Telescope), localizado nas montanhas do deserto do Atacama. Foram acompanhadas pelo professor de Física Oscar Kudo. A viagem foi entre os dias 23 e 25 de maio de 2016.
Confiram o relato do professor Oscar Kudo sobre a viagem aqui.